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Pais recorrem à reabilitação contra vício no jogo Fortnite

Jef Feeley e Christopher Palmeri

27/11/2018 16h07

(Bloomberg) -- Debbie Vitany trava uma batalha perdida contra o Fortnite.

Seu filho de 17 anos, Carson, passa 12 horas por dia no videogame em busca de armas e recursos em um mundo pós-apocalíptico onde o objetivo é ser o último sobrevivente. Os professores reclamam que ele dorme durante as aulas e que suas notas despencaram.

"Fizemos alguns progressos, conseguimos convencê-lo a reduzir as horas de Fortnite e a dormir melhor, mas ele retomou os velhos hábitos", disse Vitany, que mora perto de Saginaw, Michigan, em entrevista. "Nunca vi um jogo com tanto controle sobre a mente das crianças."

A angústia de Vitany é sentida por muitos outros pais, professores e chefes de todo o mundo que se deparam com um jogo que suga horas do tempo dos jogadores -- às vezes em detrimento de outras atividades. Mais de 200 milhões de pessoas se cadastraram para jogar Fortnite, que se tornou um negócio de bilhões de dólares para sua criadora, a Epic Games. Alguns pais desesperados mandaram os filhos para reabilitação.

"Esse jogo é como a heroína", disse Lorrine Marer, especialista britânica em comportamento, que trabalha com crianças que enfrentam vício em jogos. "Quando a pessoa vicia é difícil se libertar."

A Epic divulgou alertas anteriormente a respeito de como evitar golpes relacionados ao Fortnite, mas preferiu não comentar a questão do vício.

O vício em videogames não é uma novidade: pais e professores reclamam da distração dos filhos -- que estão sempre com um joystick na mão -- desde a época do Atari. Mas a onipresença do Fortnite criou uma ameaça mais generalizada. E se dá em um contexto de preocupações maiores com o uso excessivo de redes sociais e smartphones.

Causa de separações

O Fortnite, lançado inicialmente no popular modo "battle royale" em setembro de 2017, não está gerando problemas apenas para crianças. Um serviço on-line de divórcios do Reino Unido afirma que 200 pedidos apresentados neste ano citaram o Fortnite e outros jogos de videogame como motivo para o fim dos casamentos.

O Fortnite é particularmente atraente porque a versão battle royale é gratuita e está disponível em diversos aparelhos, desde telefones até consoles de videogame, observa Cam Adair, que abandonou o Ensino Médio aos 15 anos devido ao vício em videogames e agora dá palestras sobre o assunto em escolas e para outros grupos. Os fãs de Fortnite competem em batalhas com 100 pessoas até que reste apenas um -- partidas que, depois de iniciadas, são difíceis de abandonar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o "distúrbio de games" como doença pela primeira vez em junho, decisão que pode facilitar a tarefa dos pais de pedir reembolso por tratamentos dos planos de saúde, segundo Paul Weigle, psiquiatra de Mansfield Center, Connecticut.

Weigle, que trata cerca de 20 jogadores compulsivos de Fortnite, recomenda que os pais impeçam crianças com menos de 10 anos de jogar videogame. E os pais precisam estabelecer limites quando elas jogarem. Considerando que os jogos estão sofisticando sua capacidade de prender os fãs, para ele a questão do vício só vai piorar.

"Essa questão será mais problemática do que na atualidade", disse Weigle.

--Com a colaboração de John Lauerman.

Repórteres da matéria original: Jef Feeley em Wilmington, Delaware, jfeeley@bloomberg.net;Christopher Palmeri em Los Angeles, cpalmeri1@bloomberg.net