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Atuários têm 97,28892% de certeza de que precisam de imagem nova

Michael Sasso

30/11/2018 14h17

(Bloomberg) -- Riley Howsden tem um daqueles empregos descolados que todo mundo adora detestar. Ele trabalha na Riot Games, produtora de videogames com sede em Los Angeles, onde a vestimenta de trabalho inclui casacos com capuz, a comida é gratuita e seu trabalho envolve deduzir que tipos de produtos os jogadores poderiam comprar. Jogadores agressivos, por exemplo, podem esbanjar em equipamento de assassino samurai para seus personagens.

O atual emprego de Howsden em ciência de dados não poderia estar mais longe de seu emprego anterior como atuário de seguros - um trabalho com um estereotipo tão mundano que a piada interna é que "um atuário extrovertido é alguém que olha para o sapato das outras pessoas".

"Se eu fosse escrever uma carta de apresentação para um trabalho, seria muito mais fácil falar sobre minha paixão por videogames do que minha paixão por seguros", disse Howsden, 32, que passava os fins de semana jogando videogame em sua cidade natal, Oshkosh, Nebraska, de 884 habitantes.

Exame de consciência

A mudança de carreira de Howsden está no cerne de alguns exames de consciência das comunidades atuariais. Atuários experientes costumam ganhar mais de US$ 200.000, e o campo sempre fica no topo das pesquisas de "melhor carreira". Uma pesquisa doBankrate.com realizada no terceiro trimestre afirmou que a ciência atuarial é o diploma de bacharel mais valioso em termos de remuneração e emprego. No entanto, as convenções do setor estão repletas de alertas: os cientistas de dados estão invadindo o território deles e a falta de habilidades comunicacionais dos atuários os prende a cargos maçantes nas seguradoras.

Mike Lombardi, ex-presidente da Sociedade de Atuários (SOA, na sigla em inglês), disse que o setor enfrenta um desafio "existencial" para se manter relevante, em um discurso no ano passado, e alertou que "a complacência não é uma opção".

A ciência de dados atrai o mesmo tipo de estudantes e parece estar crescendo muito mais rápido, de acordo com as estatísticas do quadro de empregos Indeed.com. Os anúncios de emprego por milhão para ciência ou cientistas de dados aumentaram 23 por cento em outubro de 2017 e 33 por cento no mês passado, em comparação com o ano anterior, segundo estatísticas do Indeed.com.

Os atuários têm um estereótipo consagrado de serem nerds socialmente desajeitados. Há quem ache graça desse exagero. Quando Hollywood lançou, em 2002, "As confissões de Schmidt", filme em que Jack Nicholson interpretava um atuário problemático, a SOA divulgou uma réplica sutilmente nerd: "A representação de atuários como indivíduos obcecados por matemática, socialmente desconectados e chocantemente descabelados é 97,28892 por cento incorreta."

Expansão

A Sociedade de Atuários e a Sociedade Atuarial de Acidentes estão respondendo ao boom da ciência de dados oferecendo mais cursos de análise preditiva, que usam dados para prever resultados. Também tentam expandir seu alcance para outros setores além dos seguros, disse o presidente da SOA, Jim Glickman.

Mary Pat Campbell, atuária de longa data que atualmente faz pesquisas sobre seguros, tem visto mais anúncios sobre os benefícios dos atuários para bancos e hedge funds, disse ela. Ela tem visto jovens atuários partindo para setores mais atraentes, como a ciência de dados, da mesma forma em que migraram para as empresas de tecnologia nos anos 1990. Assim como aconteceu com a bolha tecnológica, ela acha que esta pode ser uma fase passageira.

"Os atuários fazem ciência de dados há anos", disse Stephen Mildenhall, professor de atuária e de gestão de risco da St. John's University em Nova York, "mas não sabiam apresentá-la como 'ciência de dados'".