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Metade de usinas de carvão do mundo é deficitária

Mathew Carr

30/11/2018 14h34

(Bloomberg) -- A disparada dos preços do carvão nos últimos três anos e os preços apagados da eletricidade estão diminuindo a rentabilidade das usinas elétricas que queimam esse combustível, afirmou uma proeminente empresa de análise.

Cerca de 42 por cento da capacidade de geração de carvão do mundo está perdendo dinheiro, segundo a Carbon Tracker, uma empresa de pesquisa sobre energia que defende a proteção do clima. Essa proporção aumentará para 56 por cento até 2030, disse Matthew Gray, analista sênior de empresas de eletricidade e energia da consultoria.

Embora projete-se que os preços do carvão vão cair 13 por cento até o fim da próxima década, o custo de emitir dióxido de carbono deve dobrar na Europa e disparar na China, que está criando um mercado de negociação de emissões. Por causa desses fatores, o custo de operar usinas de carvão ultrapassará as possíveis rendas, segundo a empresa de pesquisa.

"A queda dos preços atacadistas da eletricidade é um problema para todo o setor de energia convencional - nuclear, hidrelétrica, carvão, gás, mas não para as fontes renováveis subsidiadas, que, naturalmente, são a causa dos preços baixos no atacado - a renda delas vem de fora do mercado", disse Brian Ricketts, secretário-geral da Euracoal, uma associação do setor. É por isso, disse ele, que medidas de apoio às usinas de combustíveis fósseis estão se espalhando para ajudar a garantir que esses geradores não sejam desativados rápido demais.

Outras grandes causas dos prejuízos nas usinas de carvão são as normas projetadas para limitar a poluição do ar e a concorrência da geração de energia eólica e solar. A análise da Carbon Tracker supõe que as regras atuais se manterão inalteradas e não presume um grande incremento em outras medidas climáticas.

A demanda por carvão aumentou pela primeira vez em dois anos em 2017, e a China e a Índia foram os maiores consumidores, um abalo para grupos ecológicos que esperam limitar o uso do combustível fóssil mais poluente. A edição anual do World Energy Outlook, publicada neste mês pela Agência Internacional de Energia, indica que o carvão continuará sendo um combustível fundamental para aquecimento e iluminação até 2040.

A China é a maior produtora de energia do mundo e representa um terço da geração global de eletricidade. Os 993 gigawatts de capacidade operacional do país representam metade do total do planeta, e mais 259 gigawatts - volume semelhante à frota operacional dos EUA - estão em construção. Nos EUA, a geração de carvão caiu 28 por cento entre 2012 e 2017.

"Os chineses estão reforçando os planos para construir mais usinas de carvão", disse Gray em entrevista por telefone. Países com mercados regulados - onde há pouca concorrência - podem acabar enfrentando um encarecimento da eletricidade se seguirem o exemplo da China, o que irritará os consumidores, disse ele.

Nos países onde a concorrência nos mercados de eletricidade é aberta, como União Europeia e EUA, os investidores na geração com carvão podem acabar ficando com ativos de baixo valor, disse Gray. A nova análise ajudará a "contestar as hipóteses de avaliação para a eletricidade gerada com carvão".