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Desordem nos EUA e Europa cria vácuo de liderança no Ocidente

Marc Champion

17/12/2018 12h58

(Bloomberg) -- O velho dilema sobre para quem ligar para falar com a "Europa" agora se aplica ao "Ocidente" como um todo.

Com líderes que já são cartas fora do baralho no Reino Unido e na Alemanha, o presidente Emmanuel Macron humilhado pela revolta dos Coletes Amarelos na França e os EUA profundamente divididos em relação a seu papel no mundo, o vácuo de liderança que está surgindo nas democracias ricas do mundo cresceu repentinamente.

"Não existe uma liderança da Europa" nem dos EUA, disse o ex-primeiro ministro dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, que dirigiu a Organização do Tratado do Atlântico Norte como secretário-geral de 2009 a 2014, em entrevista por telefone no sábado.

Isso permite que o presidente russo, Vladimir Putin, ou o presidente da China, Xi Jinping, "tenham margem de manobra", disse ele. Também levanta a questão de saber se "o Ocidente" continua sendo uma entidade significativa.

A resposta ao confronto do mês passado no Mar de Azov, em que forças russas atacaram e apoderaram-se de três embarcações navais ucranianas a caminho de portos ucranianos, mostrou o potencial impacto do vácuo de liderança atual. Rasmussen acha que Putin estava testando a determinação ocidental antes de tomar novas medidas prévias às eleições presidencial e parlamentar da Ucrânia, em março e outubro. Se for assim, o Ocidente não passou no teste.

Nenhum navio aliado navegou no mar pela liberdade de patrulhas de navegação, como fizeram para desafiar as reivindicações da China às águas territoriais no Mar do Sul da China. Nem novas sanções foram anunciadas contra a Rússia. A mais dura resposta internacional ao confronto de 25 de novembro veio do presidente Donald Trump; ele cancelou uma reunião planejada com Putin à margem da cúpula do Grupo dos 20 na Argentina.

Macron, um autoproclamado defensor da ordem liberal ocidental, lutava na época por sua sobrevivência política diante de protestos contra as taxas de combustível no país. A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, também lutava para chegar a um acordo que satisfaça o referendo de 2016 para abandonar a UE. Enquanto isso, a chanceler alemã, Angela Merkel, antigamente apontada como líder do mundo livre, estava ocupada entregando o controle de seu partido, a União Democrata-Cristã, a uma sucessora.

Nenhum adulto

"Não existem mais adultos que possam negociar", disse Valentyn Nalyvaichenko, que foi chefe de inteligência da Ucrânia de 2006 a 2010 e chefe dos serviços de segurança de 2014 a 2015. "Há um perigo real de ficarmos sozinhos com a Rússia."

A Rússia afirma que simplesmente respondeu a uma provocação de navios ucranianos que invadiram suas águas ao largo da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014. Nos dias seguintes, os líderes europeus disseram que ainda estavam tentando entender o que tinha acontecido.

"Acho que o Ocidente como um conceito não existe mais", disse Claire Spencer, consultora sênior sobre o Oriente Médio no think tank Chatham House.

Dirigindo-se a uma plateia em Londres nesta semana, Spencer descreveu um processo que começou antes da eleição de Trump nos EUA e que está por trás das dolorosas transições que estão acontecendo em todo o mundo. Alguns dos resultados são as divergências entre os EUA e a Europa sobre como lidar com o Irã, entre os países do Golfo Pérsico sobre como responder ao Islã político e entre a Turquia e seus tradicionais aliados ocidentais sobre a questão curda e outros assuntos, disse ela.