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Acordo Pfizer-Glaxo marca volta de farmacêuticas ao laboratório

Timothy Annett e James Paton

20/12/2018 15h26

(Bloomberg) -- Duas das maiores empresas farmacêuticas do mundo fecharam acordo para a criação de uma enorme vendedora de medicamentos sem receita, em mais um sinal de que as gigantes do setor estão lentamente se afastando dos supermercados e voltando ao laboratório.

A GlaxoSmithKline e a Pfizer anunciaram na quarta-feira que pretendem combinar seus abrangentes negócios de medicamentos de venda livre em uma única empresa que vende de tudo, desde analgésicos Advil até remédios para dor de estômago Tums e chicletes Nicorette. Juntas, as empresas registraram US$ 12,7 bilhões em receita no ano passado. A nova entidade, que será 68 por cento de propriedade da Glaxo, futuramente terá ações vendidas no Reino Unido.

As farmacêuticas imaginaram alguma vez controlar todos os cantos dos armários de remédios domésticos, englobando desde itens de cuidados pessoais cotidianos até terapias para o câncer e doenças cardiovasculares. A receita constante produzida pelos consumidores com o reabastecimento de produtos de higiene pessoal e remédios para dor de cabeça era vista como um estabilizador para o negócio mais volátil -- embora muito mais lucrativo -- de desenvolvimento e venda de tratamentos receitados por médicos.

As mudanças recentes no setor de saúde e na economia em geral, no entanto, têm desafiado esse modelo. As grandes empresas farmacêuticas estão cada vez mais focadas no desenvolvimento de novos medicamentos caros baseados em pesquisa de ponta em genética e outros campos. Ao mesmo tempo, o custo de pesquisa de novas curas está aumentando, enquanto planos de saúde e governos exigem preços mais baixos.

Enquanto isso, os lucros em muitos negócios de consumo têm sido prejudicados pela concorrência e pelo crescente poder de empresas como Amazon e Walmart de derrubar cada vez mais os preços de uma série de produtos.

Nos últimos 12 meses, essas pressões produziram combinações pouco convencionais de operadoras de farmácias, planos de saúde e empresas de comércio eletrônico. Ao mesmo tempo, outras que haviam apostado alto no ramo de saúde estão deixando o mercado -- o exemplo mais recente é a General Electric, que entrou com pedido de confidencialidade para desmembrar sua divisão de saúde.

Nos casos da Pfizer e da Glaxo, a união das unidades de medicamentos sem receita como uma empresa independente as tira do negócio de venda de produtos de pouca margem em um mercado sob pressão. A Glaxo recorrerá às receitas estáveis de sua divisão de vacinas e a Pfizer se apoiará em uma série de medicamentos de sucesso, como o Lyrica, um remédio para dores nos nervos, e o Ibrance, um tratamento contra o câncer.

A Pfizer vem aperfeiçoando há algum tempo o foco na linha de produtos. Em 2013, a empresa desmembrou o negócio de saúde animal Zoetis; esta ação tem registrado forte desempenho e avançou 19 por cento neste ano. A Pfizer também evitou fusões chamativas com outras grandes empresas farmacêuticas diversificadas, comprando mais fabricantes de medicamentos de médio porte na tentativa de desenvolver sua linha de medicamentos para combate ao câncer e a doenças raras.

Repórteres da matéria original: Timothy Annett em N York, tannett@bloomberg.net;James Paton em Londres, jpaton4@bloomberg.net