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Entrevistas após toda reunião do Fed mudam cálculo do mercado

Elizabeth Stanton

27/12/2018 14h51

(Bloomberg) -- Os operadores do mercado internacional de renda fixa vão encarar um novo cenário em 2019. O presidente do banco central americano, Jerome Powell, planeja realizar entrevistas coletivas com a imprensa após cada uma das oito reuniões anuais do Federal Reserve. Até então, ele só aceitava perguntas de repórteres após quatro dessas reuniões.

Espera-se alguma mudança nas atividades de hedge no mercado de opções. Os operadores precisarão se preparar para risco maior de alteração na política monetária ou para comentários que podem mexer com os preços dos ativos.

Essa expansão das entrevistas coletivas para além de quatro encontros anuais (que incluem projeções atualizadas para a economia e as taxas de juros) faz com que todas as reuniões proporcionem "oportunidades para dar recado", explicou John Briggs, estrategista-chefe de juros para as Américas da NatWest Markets. "A influência principal será aumentar a opcionalidade nos preços na ponta de curtíssimo prazo da curva."

Isso significa que os futuros de fed funds e contratos de swap overnight indexado que correspondem às outras quatro datas (que no passado geralmente indicavam chance zero de alteração nos juros) podem gerar mais negócio para os formadores de mercado. As opções em eurodólares também seriam afetadas e as mudanças "aparecerão como volatilidade maior embutida nos preços de swaps e opções", afirmou Priya Misra, estrategista da TD Securities.

Ressalvas

Mas os analistas têm ressalvas importantes.

Cada um dos nove acréscimos nos juros pelo Fed desde dezembro de 2015 (incluindo o último, em 19 de dezembro) ocorreram em uma das reuniões trimestrais - em março, junho, setembro e dezembro - nas quais as autoridades atualizaram o Resumo de Projeções Econômicas. Estrategistas desconfiam que essa abordagem não mudará. A próxima decisão será em 30 de janeiro.

Entrevistas regulares "aumentarão de modo incremental a volatilidade nas reuniões que não eram seguidas de coletivas de imprensa", disse Jon Hill, estrategista da BMO Capital Markets. No entanto, o Fed não sinalizou claramente a intenção de usar esses encontros para fazer mudanças nos juros, portanto as datas trimestrais "ainda corresponderão à maior volatilidade nos mercados financeiros."

Uma maneira de sinalizar essa mudança seria abrir mão de um acréscimo nos juros em março, de acordo com o estrategista Jon Cohn, do Credit Suisse.

Isso pode "ajudar a levar o mercado a precificar legitimamente acréscimos em encontros sem coletivas de imprensa em vez de apenas 1 ou 2 pontos-base", disse ele.

O Fed deu um passo nessa direção na semana passada, reduzindo o número mediano de elevações esperadas nos juros no ano que vem de três para duas, acrescentando que "desdobramentos econômicos e financeiros globais" influenciarão sua trajetória.Se o mercado considerasse seriamente a possibilidade de aumento de juros entre março e junho, o spread nos futuros de fed funds de abril e maio ? ainda mínimo ? se ampliaria, explicou Hill.

Timing complicado

Especulações de que o Fed está perto de encerrar o ciclo de aperto também limitam o impacto da maior visibilidade que será proporcionada por Powell, disse Jay Barry, estrategista de renda fixa para os EUA do JPMorgan Chase.

Depois da reunião de política monetária da semana passada, o JPMorgan alterou a projeção de quatro para três acréscimos nos juros em 2019, mas a projeção implícita no mercado oscilou para menos de um único aumento.

"Precisaríamos de uma curva mais inclinada nos swaps overnight indexados para os mercados darem mais importância" às reuniões intermediárias, disse Barry.