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Investidor parece gostar de AMLO só quando esquece quem ele é

Justin Villamil e Eric Martin

14/01/2019 13h07

(Bloomberg) -- O novo presidente do México provavelmente não pontuará seu desempenho pela saúde dos mercados. É que eles estão bem -- menos quando o presidente Andrés Manuel López Obrador se comporta como ele sempre disse que se comportaria.

O líder esquerdista pode apontar para o maior rali do mundo nas seis semanas que está na presidência, mas ele sabe que não foi eleito para isso. Os investidores financeiros no México vêm tendo retornos decentes há algumas décadas. O problema é a economia. O padrão de vida da maioria dos mexicanos avançou muito pouco nesse período -- uma das razões pela qual López Obrador obteve uma vitória esmagadora na eleição de julho do ano passado.

Desde então, tem havido turbulência nos mercados, onde o novo presidente é considerado por muitos como perigoso quando persegue sua agenda de longa data, apoiada pelos eleitores, mas talvez inofensivo quando pode ser persuadido a não fazê-lo. No entanto, nem todos os investidores veem as coisas assim. Alguns argumentam que a economia glacial e a enorme desigualdade do México -- a pior dos 35 membros da OCDE -- deixa muito espaço para AMLO se sair melhor. Isso permitiria que investidores mexicanos e estrangeiros compartilhassem uma fatia maior.

"As chances de que suas políticas levem a um aumento do crescimento do PIB são realmente muito boas", disse Josephine Shea, gerente sênior de carteira do BNY Mellon em Boston, que cita as metas de López Obrador de tirar as famílias de baixa renda da pobreza e gerar empregos por meio de projetos de grande escala. Ambos devem ajudar a economia, disse. "A questão é, quanto e quando?"

Lembretes

Nos dias que se seguiram à votação, AMLO repetiu sua promessa de colocar os mexicanos pobres em primeiro lugar, mas também falou as coisas certas do ponto de vista do mercado. Ele prometeu respeitar o capital privado e manter um controle rígido sobre o gasto público. Os investidores deram um suspiro de alívio, depois comemoraram -- e prontamente esqueceram tudo o que López Obrador defendeu ao longo de uma campanha de sete meses e de uma carreira de quatro décadas.

Mas logo depois eles receberam alguns lembretes ácidos.

Houve uma queda em outubro, quando AMLO, então presidente eleito, descartou um plano de US$ 13 bilhões para construir um aeroporto na Cidade do México -- algo que ele veio sinalizando durante o ano. Houve outra queda em novembro, quando seu partido mirou as comissões elevadas cobradas pelos bancos mexicanos. O clima só melhorou em dezembro, quando López Obrador apresentou um orçamento bastante ortodoxo para 2019 e chegou a um acordo com os detentores dos títulos do aeroporto.

López Obrador fala como um grande gastador. Os projetos que ele anunciou na campanha, e que reafirmou desde a vitória, incluem uma refinaria de petróleo de US$ 8 bilhões em seu estado natal, Tabasco, e uma ferrovia maia para turistas que ligará cinco estados do sul, na maioria pobres. Ele também promete conseguir mais US$ 8 bilhões para aumentar as aposentadorias e as bolsas de estudo.

Em um momento em que várias economias latino-americanas ainda sofrem os efeitos de orçamentos mal planejados, esse discurso deixa os investidores nervosos. "O principal desafio é abrir espaço para essas políticas sem deixar de aderir a um entorno fiscal geral que inspire confiança no mercado", disse Sergi Lanau, economista-chefe adjunto do Institute of International Finance.

Repórteres da matéria original: Justin Villamil em Cidade do México, jvillamil18@bloomberg.net;Eric Martin em Cidade do México, emartin21@bloomberg.net