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Fazer jeans é ruim para o planeta. E uma fábrica quer mudar isso

Kim Bhasin e John Boudreau

17/01/2019 16h23

(Bloomberg) -- Um rio de lodo tóxico azul passa por uma fábrica a cerca de 30 quilômetros da cidade de Ho Chi Minh, uma das 165 instalações dentro de um enorme parque industrial que fabrica de tudo, de sapatos a alimentos e eletrônicos. A infusão se une a uma mistura escura antes de passar por tanques e filtros gigantes. Perto dali, Sanjeev Bahl coloca um copo vazio sob uma torneira, da qual escorre o líquido agora turvo, incolor. Ele leva o copo aos lábios e bebe.

"É ótimo", diz. "É mais limpo do que os padrões da Organização Mundial da Saúde para a água."

O CEO da Saitex International, de 55 anos, estava lá em uma de suas visitas regulares, a um voo bem longo de sua casa, em Nova York. De camisa jeans azul e calça jeans branca, Bahl explica que sua operação de fabricação de jeans recicla 98 por cento da água que utiliza. Mas este é apenas um dos aspectos de, segundo ele, uma mudança fundamental em um setor que despeja resíduos por todo o mundo.

A Saitex investiu US$ 2 milhões só no sistema de água para provar não apenas que é possível fazer jeans azuis de forma sustentável, mas também que dá para lucrar com isso. E a questão não se restringe à reciclagem: movida a energia solar, a usina não usa combustíveis fósseis e conta com geradores de biomassa que queimam aglomerado de madeira e casca de coco. Máquinas de lavar roupa ecológicas branqueiam tecidos usando o mínimo de água. Em suma, a Saitex usa menos de um litro para fabricar um par de jeans, enquanto os processos tradicionais demandam 80 vezes mais. A fábrica recebeu até a certificação LEED do Conselho de Construção Verde dos EUA e é a única fabricante de jeans do Vietnã a contar com ela, disse Bahl.

A Saitex (batizada em homenagem ao guru Shirdi Sai Baba) não é uma nova startup -- seus produtos ostentam as marcas da Ralph Lauren, da Calvin Klein e da Tommy Hilfiger. O que Bahl quer agora é propagar a notícia a respeito de uma estratégia de fabricação que, segundo sua expectativa, todas as fabricantes de têxteis adotarão.

"É isso que queremos implantar nos EUA", diz, caminhando entre alguns de seus 4.500 funcionários durante uma checagem, em novembro. Eles correm ao redor dele, por um chão de fábrica impecável, iluminado em parte pela luz natural de painéis transparentes no teto.

Não se sabe quanta poluição exatamente pode ser atribuída à indústria global de vestuário, mas há um consenso universal de que é muita. As montanhas de restos de tecido se acumulam em lixões na China, na Índia, em Bangladesh e no Sudeste Asiático. Em todo o mundo, esse material descartado chega a 92 milhões de toneladas por ano, número que deverá atingir 148 milhões de toneladas até 2030, segundo estudo recente da Boston Consulting Group e da Global Fashion Agenda.

O uso e a poluição da água representam um problema igualmente colossal. Segundo estimativa do estudo, o setor consome 79 bilhões de metros cúbicos por ano -- quase a mesma quantidade de água doce que o rio Nilo descarrega no Mediterrâneo no mesmo período.

Para Bahl, esses fatos nunca estiveram longe da mente. Mas um relatório divulgado no outono passado (Hemisfério Norte) pela Organização das Nações Unidas, alertando que há uma crise climática a apenas 20 anos de distância, reafirmou o desejo de se expandir o mais rapidamente possível.

"O momento atual é muito assustador", diz Bahl. "Eu olho para os meus filhos e penso: como esse lugar vai ficar?"