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Ghosn termina de cair em desgraça com demissão da Renault

Ania Nussbaum, Francine Lacqua e Tara Patel

24/01/2019 11h34

(Bloomberg) -- Durante duas décadas, Carlos Ghosn dominou o setor automobilístico global. Seu período à frente da Renault acabou de um jeito muito mais humilhante, em uma cela de prisão apertada nos subúrbios de Tóquio.

O executivo de 64 anos pediu demissão dos cargos de presidente do conselho e CEO da maior fabricante de carros da França na noite de 23 de janeiro, disse o ministro de Finanças da França, Bruno Le Maire, em entrevista à Bloomberg TV nesta quinta-feira no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Ele deve ser substituído na presidência do conselho pelo chefe da Michelin, Jean-Dominique Senard, e como CEO por Thierry Bolloré, que tem executado a função de forma provisória, disseram pessoas a par do assunto. O porta-voz do governo Benjamin Griveaux confirmou em uma rádio local que a dupla será apresentada ao conselho da Renault nesta quinta-feira, mas não especificou cargos.

É uma reviravolta que poucos teriam previsto antes de 19 de novembro, quando a polícia vasculhou o avião privado de Ghosn pouco depois do pouso no aeroporto de Haneda. Ele está preso desde então, acusado de cometer crimes financeiros na Nissan Motor, como não declarar dezenas de milhões de dólares de sua renda e transferir para a empresa prejuízos de negociações pessoais. Se for condenado, Ghosn poderia passar décadas na prisão. Ele negou qualquer irregularidade.

"É o tipo de coisa que acontece quando alguém fica tempo demais no poder", disse Bernard Jullien, consultor independente do setor automotivo que escreveu muito sobre a Renault.

Antes de ser preso, Ghosn era um exemplo de um grupo de industriais audaciosos do jet set com foco exclusivo nos resultados. A ironia de seu pedido de demissão é que ele foi anunciado por Le Maire em Davos, lugar onde Ghosn era visto como um personagem essencial, um membro VIP da cúpula anual no resort suíço de esqui.

Ghosn comandou um império automobilístico que se estendia pelo mundo, da Rússia aos EUA e o Japão, e que incluía não apenas a Renault, mas também sua aliança com a Nissan e com a Mitsubishi Motors. A maior parceria automotiva do planeta vendeu 10,6 milhões de veículos em 2017, mais que a Volkswagen ou que a Toyota Motor.

Ghosn é amplamente reconhecido por ter mantido a união desta incômoda aliança durante duas décadas, embora outras combinações - como a DaimlerChrysler - tenham durado pouco. Sua prisão abalou a parceria e levantou dúvidas sobre sua capacidade de sobreviver à queda dele. Dois dos principais desafios para os sucessores dele serão superar as diferenças corporativas e culturais entre as empresas e atravessar as contracorrentes políticas na França e no Japão.

Ghosn, que teve apenas uma oportunidade de falar em público desde que foi preso, disse em audiência do tribunal em 8 de janeiro que é inocente e que as acusações "não têm mérito nem substância". O juiz disse que Ghosn deve continuar preso por causa do risco de ele fugir ou adulterar testemunhas ou evidências. Seus advogados reconheceram que ele pode continuar preso até o julgamento, que poderia acontecer daqui a seis meses.

--Com a colaboração de Gregory Viscusi e Vidya Root.

Repórteres da matéria original: Ania Nussbaum em Paris, anussbaum5@bloomberg.net;Francine Lacqua em Londres, flacqua@bloomberg.net;Tara Patel em Paris, tpatel2@bloomberg.net