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Mercado tenta entender impacto da redução do balanço do Fed

Alexandra Harris e Emily Barrett

29/01/2019 14h49

(Bloomberg) -- Wall Street criou uma obsessão com a redução do balanço patrimonial do banco central americano. Investidores tentam entender por que, mais de um ano após seu início, o processo começou a abalar subitamente os mercados.

Muitos veteranos alertaram sobre isso nas últimas semanas. O presidente da DoubleLine Capital, Jeffrey Gundlach, estima que a redução do balanço, a política de juros e a sinalização sobre as duas variáveis resultaram no equivalente a 15 apertos monetários implícitos. O bilionário Stanley Druckenmiller se referiu à situação como "ataque de cano duplo" que pode levar a um enorme erro das autoridades. O diretor de investimentos da Guggenheim Partners, Scott Minerd, teme que as restrições de liquidez deem lugar ao risco sistêmico.

Para outros, não é nada tão grave. Estrategistas do Barclays, Royal Bank of Canada e Wrightson ICAP acham que a ligação entre a redução do balanço patrimonial do Federal Reserve e as bolsas de valores é fraca. Ainda assim, o S&P 500 desabou mais de 3 por cento em poucas horas em dezembro, após o presidente do Fed, Jerome Powell, avisar que a redução estava no "piloto automático". As bolsas dos EUA dispararam na sexta-feira após relatos de que o Fed considera encerrar o processo de redução antes do esperado.

O raciocínio dos integrantes do Fed ficará mais explícito na quarta-feira, após a primeira reunião do ano do comitê de política monetária (FOMC). Uma pesquisa mostra que a maioria dos economistas não prevê encerramento ou desaceleração do processo de redução do balanço patrimonial neste ano.

Como o BC dos EUA chegou até aqui?

Os programas de flexibilização quantitativa implementados pelo Fed após a crise financeira injetaram trilhões de dólares no sistema bancário. A instituição comprou títulos dos bancos e pagou com créditos em suas reservas. Agora, com a economia mais firme, o Fed quer extrair a liquidez extraordinária para conter possíveis efeitos inflacionários, impedir bolhas nos preços de ativos e repor sua munição para lidar com a próxima escorregada da economia.

Desde outubro de 2017, o banco central vem permitindo vencimento ou rolagem de títulos do Tesouro ou títulos lastreados em hipotecas que estão em seu balanço patrimonial, em vez de substituí-los. A redução se acelerou gradualmente até chegar ao ritmo atual, de até US$ 50 bilhões mensais.

Por outro lado, o nervosismo dos mercados em relação ao balanço patrimonial só se manifestou há algumas semanas e esse descompasso deixou muita gente desconfiada.

"O Fed nunca fez uma experiência com duas variáveis ao mesmo tempo em que aperta a política monetária", disse Lisa Hornby, gestora de carteiras de renda fixa nos EUA da Schroder Investment Management. "O mercado se assustou com a reversão dos programas que estavam em vigor há anos e que ajudaram todos os ativos de risco."

Qual é o impacto sobre os ativos de risco?

As compras de papéis pelo Fed comprimiram os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e dos títulos lastreados em hipotecas, empurrando investidores na direção de ativos de maior rendimento, como ações e títulos de dívida corporativa. A queda dos spreads de crédito abriu caminho para captações recordes por empresas, que usaram parte do dinheiro para recomprar ações.

Para alguns, o impacto da redução do balanço patrimonial pode tornar as condições de crédito mais restritivas, especialmente para companhias muito alavancadas, e levar a economia à recessão.

O que acontecerá com o balanço patrimonial daqui para frente?

É razoável afirmar que ninguém - nem o presidente do Fed - sabe ao certo como estará o balanço patrimonial dentro de um ano. A última sondagem do escritório regional do Fed em Nova York mostra que as principais corretoras esperam estabilização ao redor de US$ 3,5 trilhões, o que, no ritmo atual, implicaria o encerramento do processo de redução no início de 2020, de acordo com uma análise do ABN Amro Bank. Há apenas três semanas, Powell falou que o balanço patrimonial no futuro "será substancialmente menor do que hoje'' e as bolsas derraparam. Declarações mais recentes de seus colegas sugerem que a instituição estuda interromper o processo antes do previsto.

--Com a colaboração de Catarina Saraiva e Christopher Condon.

Repórteres da matéria original: Alexandra Harris em N York, aharris48@bloomberg.net;Emily Barrett em N York, ebarrett25@bloomberg.net