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Alemanha pode nunca ter boom do gás natural, mesmo sem o carvão

Vanessa Dezem

06/02/2019 16h44

(Bloomberg) -- A indústria do gás natural está ansiosa para ver um salto na demanda agora que a Alemanha elaborou um plano para acabar com a geração de eletricidade por meio da queima do carvão. Talvez isso nunca aconteça, segundo um relatório de uma das maiores empresas de energia do país.

O estudo, que não foi publicado, mostra que a demanda por gás na Alemanha, na Holanda, na Bélgica, na França e no Reino Unido deverá cair até 16 por cento até o fim da próxima década em relação aos níveis de 2016. Até lá, o custo dos sistemas solares e de baterias cairá o suficiente para transformar as fontes de energia renovável na forma mais econômica de gerar novos fluxos de eletricidade.

Se concretizado, o cenário representaria um revés para empresas de energia como RWE, Uniper e Statkraft, que operam muitas das usinas de gás natural da Alemanha. Após anos com margens de lucro reduzidas, mesmo nas estações mais novas e eficientes, o ressurgimento do uso do combustível para geração de energia seria um alívio para as empresas e economias locais.

O relatório, visto pela Bloomberg News, minimiza a teoria amplamente aceita de que o gás será beneficiado por ser a única outra fonte estável de energia no maior mercado da Europa em um momento em que a chanceler Angela Merkel está desativando também os reatores nucleares remanescentes do país.

Mas, em vez disso, a expectativa é que os custos da tecnologia renovável caiam ainda mais, impulsionando a expansão das energias eólica e solar. Como resultado, o crescimento da demanda por gás para a produção de eletricidade como resultado do fechamento de usinas de carvão será limitado. A demanda pelo gás pode cair mais de 20 por cento nas residências e usinas de energia que usam o combustível, mostrou o estudo.

"Não se pode esperar um grande aumento na demanda só pela saída do carvão", disse Harald Herzig, chefe de front office da Mainova, uma empresa de energia de Frankfurt que não participou do estudo. "A demanda por gás natural na Alemanha, mesmo com a retirada gradual do carvão, pode aumentar só um pouco, porque os outros setores, como os domicílios e a indústria, provavelmente reduzirão a demanda."

Mas outras instituições, como a associação do setor Zukunft Erdgas, a produtora austríaca OMV e a Raiffeisen Capital Management, estão otimistas e projetam que a participação do combustível no sistema energético alemão aumentará.

Um estudo da associação mostra que a Alemanha deverá necessitar uma capacidade adicional movida a gás de 50 terawatts-hora a 81 terawatts-hora por ano até 2022, quando termina a primeira fase da saída planejada do carvão. Isso aumentaria o consumo geral em 5 por cento a 7 por cento e dobraria o uso de gás na geração de eletricidade.

"Sempre precisaremos da geração de energia do gás para respaldar as energias renováveis, e isso é óbvio", disse Timm Kehler, presidente do conselho da Zukunft Erdgas.

A Alemanha deverá perder 45 gigawatts, ou quase 40 por cento de sua capacidade energética total, após desativar todas as usinas movidas a carvão até 2038. No ano passado, as energias renováveis superaram o carvão e se tornaram a maior fonte de eletricidade do país.