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Maduro se entrincheira e colaboradores buscam plano de fuga

Esteban Duarte, Eric Martin e Ilya Arkhipov

11/02/2019 15h30

(Bloomberg) -- Pressionado dentro e fora da Venezuela, Nicolás Maduro está sendo encorajado pelos EUA a ir para "uma praia bonita em algum lugar longe da Venezuela". A questão é aonde ele poderia ir?

O líder venezuelano resiste há anos a protestos, a uma economia em colapso e a sanções internacionais por meio de um controle firme das Forças Armadas e da repressão à oposição. Mas o estresse nunca foi tão grande. O estrangulamento financeiro está intensificando globalmente, muitos vizinhos e países ocidentais exigem que ele realize eleições ou se afaste, e Juan Guaidó reanimou e deu coesão à oposição.

Em público, Maduro reitera que não irá a lugar nenhum e que faltaria muito para sua hipotética saída. Ele denuncia com frequência o que, segundo ele, é uma tentativa de golpe de Estado orquestrada pelos EUA, e, ao que tudo indica, ele está se entrincheirando. No entanto, planos de contingência estão sendo traçados caso ele precise sair repentinamente da Venezuela, segundo quatro pessoas a par das discussões.

Qualquer possível porto seguro acarreta riscos para Maduro e para os países envolvidos. Embora os EUA tenham afirmado que ele deve abandonar a Venezuela, é possível que Washington não seja muito amável com qualquer país que lhe der guarida. Além disso, Maduro provavelmente buscaria ficar fora do alcance da lei venezuelana e do direito internacional.

Alguns destinos previsíveis estão sendo discutidos, como Cuba, Rússia e Turquia. Em Cuba, o governo comunista de Miguel Díaz-Canel é um aliado ideológico da república bolivariana de Maduro.

Já foi discutida também a possibilidade de ele ir para o México, disseram duas das pessoas, que pediram anonimato devido à sensibilidade do assunto. O presidente Andrés Manuel López Obrador é um dos poucos líderes latino-americanos que não reconheceram Guaidó, líder da Assembleia Nacional, como presidente legítimo da Venezuela. Maduro compareceu à posse de López Obrador em dezembro.

Moscou não gosta de Maduro, mas também não tem muitas opções, segundo uma pessoa a par das discussões internas, que falou sob condição de anonimato. O Kremlin não vai incentivar Maduro a fugir a menos que haja uma alternativa clara - e, para Moscou, essa alternativa não é Guaidó, disse a pessoa.

O Vaticano também poderia desempenhar um papel na organização de algum tipo de saída de Maduro, disse outra pessoa. Guaidó pediu, em entrevista à emissora italiana Sky TG24 na semana passada, que o Papa Francisco atue como um mediador na Venezuela.

Se Maduro recorresse à Rússia, o presidente Vladimir Putin lhe daria refúgio, disse Andrey Kortunov, diretor do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, uma organização de pesquisa criada pelo Kremlin. "Não temos como regra abandonar os nossos - e ele ainda é um dos nossos", disse ele.

A Rússia, no entanto, acredita que Maduro pode sobreviver à crise, segundo Kortunov. "Acho que Maduro tem esconderijos mais próximos da Venezuela do que a Rússia", disse ele. "Mas isso ainda é prematuro. Até agora, o regime tem mostrado certa resiliência."

--Com a colaboração de Gregory Viscusi, Nick Wadhams, Stepan Kravchenko, Patricia Laya e Selcan Hacaoglu.

Repórteres da matéria original: Esteban Duarte em Toronto, eduarterubia@bloomberg.net;Eric Martin em Cidade do México, emartin21@bloomberg.net;Ilya Arkhipov em Moscow, iarkhipov@bloomberg.net