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Perto do fim do ciclo de aperto, Fed enfrenta dura realidade

Jeanna Smialek

12/02/2019 16h25

(Bloomberg) -- A paciência maior do Federal Reserve nos últimos tempos em relação a novos aumentos do juro ressalta uma triste realidade: o banco central terá muito menos munição do que antes para combater a próxima recessão.

"A aparente mudança na estratégia de política monetária levou alguns observadores a questionarem se o Fed está reagindo exageradamente à volatilidade recente do mercado", escreveu Tiffany Wilding, da Pacific Investment Management Co., em postagem de blog. "Muitos integrantes do Fed atualmente veem uma boa chance de a faixa atual da taxa dos fundos federais (2,25 por cento a 2,5 por cento) ser o nível terminal deste ciclo -- um nível notavelmente mais baixo do que a maioria deles previa anteriormente."

Por um lado, o Fed está comparativamente bem posicionado para uma recessão. O banco central elevou o juro, antes em nível zero, diferentemente de seus pares europeus e do Japão, para ter espaço de manobra para reduzi-lo para ampliar os empréstimos. Além disso, reduziu o balanço inchado e tem mais espaço para realizar uma compra de títulos em grande escala se a economia realmente recuar.

Mas como o juro provavelmente permanecerá congelado em um ponto bem inferior ao padrão histórico -- independentemente de ser o estabelecido atualmente ou um pouco acima --, o banco central terá menos espaço para relaxar a política para estimular o crescimento.

Diante desse cenário, o Fed pretende passar 2019 falando sobre sua futura estrutura política. A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, sugeriu na semana passada que o banco central poderia considerar o uso da compra de títulos como uma ferramenta mais regular e não reservada apenas para quando os juros estão em zero. Wilding, da Pimco, sugere que fixar uma meta de inflação média -- basicamente permitindo que os preços subam um pouco quando a economia está forte -- também poderia ser uma opção. Essa é uma ideia frequentemente levantada pelo presidente do Fed de Nova York, John Williams.

"Os formuladores de políticas também podem procurar criar mais 'espaço' para aumentar as taxas de juros nos bons momentos", escreve ela. "Aumentando as expectativas de inflação ou pelo menos trabalhando para garantir que as expectativas continuem ancoradas na meta de longo prazo do Fed", o Fed "poderia aumentar ainda mais as taxas de juros nominais ao longo do tempo".

A única certeza no momento é o que o banco central anunciou: o Fed revisará suas estratégias, ferramentas e práticas de comunicação e realizará uma conferência de pesquisa em junho, em Chicago. O banco planeja divulgar as conclusões no fim do processo.

Uma pergunta fundamental é se o Fed terá tempo para criar um novo plano antes que ocorra uma nova desaceleração. Pesquisadores da Oxford Economics dizem que, analisando dados dos EUA, do Reino Unido, da Alemanha e da zona do euro, 12 das 22 recessões ocorridas desde a década de 1950 (ou da década de 1970, no caso da Europa) vieram um a três trimestres depois de as taxas básicas de juros atingirem o pico. Isso não significa que os bancos centrais provoquem recessões, mas sugere que eles têm dificuldades para evitá-las.