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Índia considera que Facebook é `nocivo' e ataca gigantes dos EUA

Saritha Rai

13/02/2019 13h01

(Bloomberg) — O governo da Índia abalou fortemente as gigantes do varejo Amazon e Walmart neste ano, com novas políticas que minam seus planos de crescimento. Agora, os pioneiros das redes sociais, Facebook e Twitter, correm o risco de enfrentar contratempos semelhantes nesse mercado emergente de tecnologia, que talvez seja o mais importante do mundo.

No mais recente confronto, o governo tem como alvo o WhatsApp, o popular serviço de mensagens do Facebook que é cada vez mais importante para os lucros de sua controladora. Frustrado com o fato de o serviço ter sido usado para incitar a violência e espalhar pornografia, o governo está pressionando o WhatsApp a permitir uma maior supervisão oficial das discussões on-line, mesmo que isso signifique dar às autoridades acesso a mensagens protegidas ou criptografadas. O Facebook se recusou e corre o risco de receber medidas punitivas ou até mesmo de enfrentar uma paralisação em seu maior mercado.

"Estamos há seis meses pedindo uma maior prestação de contas na plataforma, mas o que eles fizeram?", disse Gopalakrishnan S., um alto funcionário do Ministério de Eletrônica e Tecnologia da Informação, conhecido como MEITY. "Os pedófilos podem fazer o que quiserem no WhatsApp com total certeza de que não serão pegos. É completamente nocivo."

Carl Woog, porta-voz do WhatsApp, disse que as exigências do governo vão de encontro às políticas de privacidade da empresa e que acatá-las significaria acabar com as proteções de privacidade do serviço.

"O que é contemplado pelas regras não é possível hoje, considerando a criptografia de ponta a ponta que fornecemos, e teríamos que reformular o WhatsApp, o que nos levaria a um produto diferente, que não seria fundamentalmente privado", disse Woog em uma mesa-redonda na semana passada.

No entanto, ele disse que o WhatsApp tem uma política de tolerância zero em relação ao abuso sexual infantil e que cerca de 250.000 contas são banidas a cada mês por compartilhar conteúdo hediondo. "Banimos usuários do WhatsApp se soubermos que eles compartilham conteúdos que exploram ou põem em risco crianças", disse ele.

A estratégia do Facebook vai ficar cada vez mais dependente da criptografia. A companhia anunciou recentemente que vai adicionar criptografia padrão aos bate-papos dos usuários no Messenger e no Instagram no próximo ano. Com criptografia de ponta a ponta, nem mesmo o Facebook consegue ver o que os usuários dizem uns aos outros, o que significa que não há como policiar o conteúdo.

A Índia é o próximo grande mercado emergente para as empresas de tecnologia. Sua população on-line, de apenas 71 milhões de pessoas há uma década, já é de 480 milhões e deverá crescer para 737 milhões até 2022, segundo a Forrester Research. Isso estimulou investimentos pesados de líderes tecnológicos dos EUA, como Amazon, Facebook, Twitter. e Microsoft. No entanto, o mais recente episódio mostra que o governo da Índia está traçando seu próprio caminho, às vezes imprevisível, na regulamentação do mercado.

Para o WhatsApp, este é o capítulo mais recente de uma problemática expansão na Índia. No ano passado, rumores e vídeos falsos espalhados em sua rede foram ligados a cerca de duas dúzias de linchamentos e o governo não ficou satisfeito com os esforços da empresa para conter os danos, como a limitação do número de vezes que uma mensagem pode ser encaminhada. As autoridades querem ter mais acesso às mensagens do WhatsApp para poder responsabilizar as pessoas.

—Com a colaboração de Sarah Frier.