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Airbus decide interromper produção do prestigioso A380

Benjamin D. Katz e Benedikt Kammel

14/02/2019 12h02

(Bloomberg) -- A Airbus decidiu parar de fabricar o A380 de dois andares após doze anos em serviço, enterrando assim um projeto de prestígio que conquistou o coração de passageiros e políticos, mas nunca o amplo apoio das companhias aéreas, que preferiram aviões menores e mais eficientes no consumo de combustível.

A produção do jumbo será encerrada em 2021, depois que o maior cliente do A380, a Emirates, e alguns outros compradores receberem suas últimas encomendas. A companhia aérea do Golfo reduzirá seu pedido atual de 53 para 14 unidades do A380. A Emirates informou separadamente que comprará 70 aeronaves de fuselagem larga de menor porte A330neo e A350, cotadas a US$ 21,4 bilhões, antes dos descontos habituais.

"O anúncio de hoje é doloroso para nós e para as comunidades do A380 em todo o mundo", disse Tom Enders, CEO da Airbus, em comunicado. A Airbus afirmou que cerca de 3.500 empregos serão afetados pela decisão.

O A380 passou anos tentando igualar seu apelo popular com uma carteira de encomendas robusta, e a medida radical de cancelar definitivamente a produção é um momento decisivo para a aviação civil. Apesar de ser uma aeronave muito grande, o A380 sempre foi mais do que isso. Foi a manifestação do impulso colaborativo da Europa e das ambições industriais desse continente. Para a Airbus, o avião tentou criar um contrapeso dominante à Boeing, prometendo espaço e luxo inigualáveis para os céus e aeroportos cada vez mais congestionados.

Primeiros problemas

No entanto, o maior avião comercial de passageiros do mundo, com capacidade para mais de 800 passageiros, enfrentou dificuldades técnicas e comerciais desde o começo. A tarefa de colocar o A380 no ar para seu voo inaugural foi seriamente atrasada por defeitos na fiação provocados por falhas na comunicação entre as equipes de projeto. Quando o avião finalmente embarcou em seu primeiro voo comercial, no final de 2007, a crise financeira que paralisaria as viagens em todo o mundo já estava no horizonte. Alguns clientes passaram a duvidar que a gigantesca aeronave fosse a escolha certa para épocas mais magras, e os cancelamentos começaram a se acumular.

A Airbus havia observado com inveja a Boeing monopolizar o mercado de aviões muito grandes com seu jumbo 747, que celebra seu 50º aniversário neste mês e vendeu mais de 1.500 unidades. Embora a Airbus fosse uma força importante no espaço de aviões de corredor único com sua família A320, o prestigiado segmento de aeronaves de longa distância e fuselagem ultralarga permaneceu dominado pela concorrente americana. Com o número de passageiros crescendo a cada ano e novos centros grandes surgindo em mercados como Dubai, o A380 parecia a opção óbvia para atender às necessidades de uma grande empresa de transporte de passageiros, além de também arrebatar uma fatia de mercado da Boeing.

Cliente grande

De fato, Dubai se tornou o principal adepto do A380, sendo que a Emirates encomendou um total de mais de 160 unidades, muito mais que qualquer outra companhia aérea. Mas, ironicamente, também foi a Emirates que contribuiu para o declínio e queda do A380. Como a Airbus ficou cada vez mais dependente de um único cliente para seu principal produto, a Emirates poderia garantir o sucesso ou o fracasso do programa ao solicitar ou cancelar mais unidades do A380. Quando a companhia aérea decidiu repensar o pedido mais recente, de 20 unidades, a Airbus não teve escolha além de desacelerar a produção, dada a falta de outros compradores.

"Como resultado desta decisão, não temos uma grande quantidade de pedidos firmes do A380 e, portanto, nenhuma base para sustentar a produção, apesar de todos os nossos esforços de vendas com outras companhias aéreas nos últimos anos", disse Enders.

--Com a colaboração de Layan Odeh e Julie Johnsson.

Repórteres da matéria original: Benjamin D. Katz em London, bkatz38@bloomberg.net;Benedikt Kammel em Berlim, bkammel@bloomberg.net