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Doze meganavios vazios revelam verdade sobre mercado de petróleo

Hyung Min-woo/Yonhap via AP
Imagem: Hyung Min-woo/Yonhap via AP

Firat Kayakiran

21/02/2019 16h20

(Bloomberg) -- Eles estão navegando lentamente por milhares de quilômetros de oceano em direção ao litoral do Golfo do México, nos EUA. Enquanto isso, 12 superpetroleiros vazios também revelam algumas verdades a respeito do mercado global de petróleo da atualidade.

Em épocas normais, as embarcações estariam cheias de petróleo pesado com alto teor de enxofre do Oriente Médio para entrega em refinarias de lugares como Houston e Nova Orleans, nos EUA. Mas não é o caso no momento. Eles estão navegando sem nenhuma carga, uma prática que os proprietários normalmente tentam evitar porque os navios geram dinheiro fazendo entregas.

As 12 embarcações estão fazendo viagens de até 33 mil quilômetros diretamente da Ásia, contornando a África do Sul, transportando apenas água do mar, para manter a estabilidade, porque os produtores do Oriente Médio estão restringindo a oferta. Mas os crescentes volumes de petróleo leve dos EUA precisam ser exportados e não há superpetroleiros suficientes no Oceano Atlântico para a tarefa. Por isso, eles estão chegando vazios.

"O que está impulsionando isso é o mercado de petróleo americano, que parece relativamente pessimista com a alta das estimativas de produção doméstica e com os persistentes aumentos dos estoques de petróleo que vimos nas últimas semanas", disse Warren Patterson, chefe de estratégia de commodities do ING Bank em Amsterdã. "Ao mesmo tempo, os cortes da Opep estão respaldando tipos de petróleo internacionais como o Brent, criando um incentivo à exportação."

Os EUA exportam e importam grandes quantidades de petróleo bruto porque a variedade que o país bombeia --especialmente a oferta nova das formações de xisto-- é muito diferente do tipo encontrado no Oriente Médio. Os membros da Opep provavelmente reduzirão qualidades mais pesadas, e as exportações americanas são predominantemente mais leves, disse Patterson.

Excedente de gasolina

Segundo os padrões do setor, o petróleo americano é considerado leve e tem baixo teor de enxofre, o que o torna excelente para a produção de gasolina, e o resultado disso é que começa a se formar um excedente do combustível automotivo.

Em contrapartida, o petróleo do Oriente Médio geralmente precisa de mais processamento --o que não é problema para as refinarias do Golfo do México, projetadas especificamente para esse fim--, mas pode ter um rendimento menor de gasolina.

"Ainda haverá muito crescimento do óleo de xisto dos EUA neste ano", disse James Davis, diretor de serviços globais de curto prazo de petróleo da Facts Global Energy. "Isso continuará ampliando as exportações dos EUA."

As empresas de navegação contam com as exportações americanas para ajudar o mercado de navios-petroleiros a suportar as restrições de oferta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e de aliados dela, como a Rússia.

Os analistas do setor, que na verdade elevaram as estimativas do que os navios vão ganhar neste ano após o anúncio do pacto da Opep+, em dezembro, estão citando o aumento das exportações americanas como algo que contribui para isso.

Normalmente há três ou quatro superpetroleiros --very large crude carrier, ou VLCC, no jargão do setor-- vazios navegando sem carga rumo aos EUA a todo momento, segundo corretoras de navios.

(Com a colaboração de David Marino, Alex Longley, Zimri Smith e Julian Lee)