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Rali de reforma da Previdência perde fôlego em poucas horas

Vinícius Andrade e Aline Oyamada

21/02/2019 11h50

(Bloomberg) -- Poucas horas depois de o presidente Jair Bolsonaro apresentar a tão esperada proposta de reforma da Previdência para o Brasil, os mercados começaram a cair, com a atenção voltada para o que deve ser um longo e árduo processo no Congresso.

Enquanto a estimativa da economia gerada pela da proposta superou as projeções de muitos analistas, ainda faltam ao governo os votos necessários para garantir a aprovação de uma emenda constitucional para reduzir os gastos com aposentadorias. O real prolonga as perdas pelo segundo dia, liderando as quedas entre as moedas de mercados emergentes.

"Uma coisa é uma proposta de reforma sólida, bem pensada e elaborada. A outra é o que acabará emanando do Congresso", escreveu Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs Group, de Nova York, em nota a clientes. "A revisão do Congresso provavelmente será longa, barulhenta e irregular."

A proposta oferece grandes progressos, incluindo economia estimada em até R$ 1,2 trilhão em dez anos, mas seu avanço potencialmente tortuoso manterá os investidores na incerteza por meses. O projeto tem como objetivo conter a tendência de alta da dívida pública brasileira que custou ao país seu grau de investimento em 2015. Inclui a introdução de idade mínima para aposentadoria de 65 para homens e 62 para mulheres, além de limites para programas de seguridade social em estados e municípios.

Ramos espera que a reforma final gere uma economia fiscal de até R$ 600 bilhões na próxima década - e adverte que valores inferiores a R$ 500 bilhões seriam vistos como insuficientes pelos investidores. Christopher Garman, diretor da Eurasia, diz que o projeto final deve levar a uma economia entre R$ 400 bilhões e R$ 600 bilhões .

Ações

O Morgan Stanley reduziu sua recomendação overweight para ações brasileiras em 12 de fevereiro, depois que o índice Ibovespa acumulou alta de 30% desde meados de setembro, quando Bolsonaro emergiu como o principal candidato da corrida presidencial.

"Nós nos tornamos mais defensivos, já que o governo agora tem que cumprir a reforma da Previdência Social", escreveram estrategistas do Morgan Stanley, liderados por Guilherme Paiva, em uma nota a clientes.

Atualmente, ele gosta de "ações selecionadas de alta qualidade de crescimento", como a empresa de cuidados odontológicos Odontoprev. Alguns "nomes defensivos", incluindo o da fabricante de papel Klabin, também estão na lista de preferências.

Riscos Cambiais

Depois que o real ganhou mais de 10% desde setembro, os riscos para a moeda pendem para o lado negativo, disse Por Hammarlund, estrategista-chefe de mercados emergentes da SEB AB em Estocolmo. Quaisquer alterações significativas na reforma da Previdência pesarão sobre a moeda.

"A proposta provavelmente enfrentará forte resistência, embora uma ampla maioria no Congresso perceba que ela é necessária", disse Hammarlund, acrescentando que "a resistência e a moderação de altas expectativas provavelmente pesarão sobre o real e os títulos".

Títulos soberanos

Os títulos brasileiros já ganharam muito na expectativa das reformas, e agora é provavelmente um bom momento para se estar mais cauteloso, uma vez que as boas notícias já estão precificadas no mercado, disse Jim Barrineau, diretor de dívida de mercados emergentes na Schroders, em Nova York.

Os títulos soberanos em dólar estão sendo negociados em um spread muito menor do que seus pares, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A Schroders está underweight nos títulos soberanos em dólares e locais, levando em conta o upside limitado.

"O momento crucial será quando o Congresso começar a avaliar o projeto e teremos alguns meses de incerteza - provavelmente até quase a metade do ano - sobre se ele pode sobreviver praticamente intacto", disse Barrineau.

Repórteres da matéria original: Vinícius Andrade em Sao Paulo, vandrade3@bloomberg.net;Aline Oyamada em São Paulo, aoyamada3@bloomberg.net