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Empresário dinamarquês aposta em moda sustentável tecnológica

Nick Rigillo e Christian Wienberg

25/02/2019 13h07

(Bloomberg) -- As startups normalmente criam um produto, encontram fornecedores e depois o vendem. Kasper Brandi Petersen pulou o primeiro passo e, em vez disso, aproveitou sua experiência na gigante de transporte Maersk para ajudar a tornar a indústria da moda, que hoje é cada vez mais descartável, um pouco mais sustentável.

A Labfresh, de Petersen, usa tecnologia molecular para produzir camisas sociais e informais que repelem manchas e odores. Quem já testou diz que é possível usá-las durante uma semana, suar e derramar vinho tinto nelas sem que isso afete o aspecto delas. Como não precisam ser lavadas com tanta frequência quanto as camisas de algodão comuns, elas devem durar mais tempo.

"Para nós, sustentabilidade não é usar algodão orgânico, é comprar 10 produtos em vez de 50", disse Petersen, em entrevista por telefone de Amsterdã, onde dirige a Labfresh com sua namorada, a holandesa Lotte Vink.

A popularidade de suas roupas vem em um momento de crescente crítica na Europa à cultura da "fast fashion", que incentiva o consumo excessivo de roupas com uma vida útil curta. No Reino Unido, os legisladores estudam um imposto especial para financiar a reciclagem e reduzir as emissões de gases do efeito estufa do setor.

Como a Nike

A tecnologia da Labfresh não é nova nem exclusiva, mas não é tão comum na Europa quanto nos EUA, onde é usada predominantemente em materiais sintéticos.

"Vimos muitas tecnologias excelentes disponíveis no mercado, que estavam sendo usadas por marcas esportivas, como Nike ou Patagonia, mas que as marcas da moda estavam relutantes em usar", disse ele.

Petersen entrou na indústria da moda com sua primeira startup, uma assessoria on-line de compras chamada The Cloakroom, que ele vendeu para a Modomoto em 2016.

O avanço para o seu mais recente empreendimento aconteceu durante um fim de semana romântico em Paris, no verão de 2016, quando o casal fez uma pausa nos passeios e na degustação de vinhos para visitar alguns cientistas locais.

"Eles tinham inventado essa tecnologia incrível e esse tecido incrível, mas ninguém queria comprar", disse o dinamarquês de 33 anos.

Foi aí que a experiência de Petersen no setor de transporte marítimo veio a calhar. Enquanto visitava centros de logística e artesãos na Nigéria, em Omã ou na Índia como membro de um programa de pós-graduação na Maersk, Petersen percebeu que poderia criar uma cadeia de abastecimento personalizada que lhe ajudaria a ter uma vantagem competitiva.

Preço alto

As camisas são caras - 119 euros, em comparação com 99 euros para um equivalente básico da Eton -, mas Petersen diz que as economias de escala permitirão que ele baixe os preços em até 20 por cento. A empresa realiza entrevistas por telefone semanalmente com os clientes para descobrir tendências futuras. Seus dados mostram que os clientes tendem a ser homens casados de 35 anos de idade, que vestem roupas elegantes e casuais no trabalho e que moram nos subúrbios. Os principais mercados da empresa são Dinamarca, Holanda e Alemanha, seguidos pelos EUA.

Embora a tecnologia têxtil usada nos produtos da Labfresh ainda seja relativamente cara e exija meses de desenvolvimento, Petersen espera que algum dia ela seja adotada por grandes marcas, como Hugo Boss.

"Isso nos deixaria muito felizes", disse ele. As empresas do mundo da moda precisam "parar de poluir e produzir produtos mais duráveis".

Repórteres da matéria original: Nick Rigillo em Copenhague, nrigillo@bloomberg.net;Christian Wienberg em Copenhague, cwienberg@bloomberg.net