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Barclays se aproxima da JBS após escândalo afastar americanos

Cristiane Lucchesi e Gerson Freitas Jr.

28/02/2019 08h46

(Bloomberg) -- O Barclays emergiu como importante banco de relacionamento do maior fornecedor de carne do mundo depois que o escândalo de corrupção envolvendo a JBS empurrou para longe bancos de Wall Street.

A JBS e suas subsidiárias fizeram pelo menos quatro ofertas de títulos de dívida no exterior, totalizando US$ 2,75 bilhões desde 2017, quando vieram à publico acusações de corrupção envolvendo os donos da gigante brasileira. O Barclays participou de todas elas. E outra surpresa pode estar a caminho: o banco com sede em Londres é um forte candidato a fazer parte da oferta pública inicial de ações planejada pela JBS nos EUA, de acordo com pessoas a par do assunto.

Os bancos que mais se relacionavam antes com a empresa, incluindo o JPMorgan, o Bank of America e o Morgan Stanley, recuaram. Isso porque a JBS é controlada por Wesley e Joesley Batista, os irmãos bilionários que confessaram ter subornado mais de 1.800 políticos no Brasil. Embora a controladora da JBS tenha concordado em 2017 em pagar R$ 10,3 bilhões como parte de um acordo de leniência com promotores brasileiros, ainda não foi fechado nenhum acordo com o Departamento de Justiça dos EUA para evitar processos sob as leis antissuborno norte-americanas.

A JBS adotou várias medidas após o escândalo que podem minimizar preocupações do departamento de compliance de bancos, incluindo o acordo com os promotores do Brasil, melhorias nas práticas de governança corporativa e a remoção dos irmãos Batista e outros executivos da direção da empresa, disseram as pessoas.

O CEO do Barclays, Jes Staley, responsável desde 2015, tem estimulado a área de banco de investimento a assumir mais "riscos controlados" para impulsionar os retornos. O banco ganhou participação de mercado, ao contrário de muitos de seus rivais europeus, devido à sua força no mercado de títulos de dívida, mostra uma apresentação de 21 de fevereiro.

O Barclays não quis comentar sobre o relacionamento com a JBS, assim como o Morgan Stanley, JPMorgan e Bank of America. A JBS não quis comentar suas relações com os bancos ou o andamento das negociações com o Departamento de Justiça dos EUA.

A JBS, que tem a maior parte de suas operações nos EUA, está retomando os planos para uma oferta de ações em Nova York como forma de acessar financiamento mais barato. Em 2016, antes do escândalo, a ideia era fazer o IPO de uma unidade que englobasse as empresas não-brasileiras da JBS e a fabricante de alimentos doméstica Seara Alimentos.

Embora o Morgan Stanley tenha sido contratado para liderar o IPO, agora é menos provável que o banco continue à frente da transação se a JBS não chegar a um acordo legal nos EUA, disseram as pessoas.

Rankings de ações

O Morgan Stanley foi o banco líder em emissões de ações para empresas nos EUA no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. O Barclays ficou em sexto lugar, depois do JPMorgan e do Bank of America.

Antes de 2017, o Barclays já tinha relações com a JBS, ao participar de cinco das 14 emissões de bônus da empresa e suas subsidiárias, enquanto o JPMorgan participou de ao menos dez, de acordo com informações compiladas pela Bloomberg. O Bank of America participou de quarto e o Morgan Stanley, de três.

Os desafios da JBS não se resumem a uma lista menor de bancos dispostos a liderar suas transações ou prover crédito. O fracasso em chegar a um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA pode também dificultar o acesso da empresa a alguns investidores que, de outra forma, participariam de um IPO, disseram as pessoas.

As relações entre JBS, JPMorgan e Morgan Stanley foram abaladas em junho de 2014, quando os bancos ajudaram a Tyson Foods a disputar com a empresa brasileira a aquisição da Hillshire Brands, fabricante de salsichas Jimmy Dean e do cachorro-quente Ball Park, disseram pessoas a par do assunto na época. A Tyson ganhou a transação e a JBS demitiu o JPMorgan de sua oferta de ações e o Morgan Stanley de sua emissão de títulos de dívida externa.

O Barclays e o BofA levaram a liderança da emissão de títulos da JBS na época, mas os laços da empresa com o Morgan Stanley melhoraram depois: a JBS contratou o banco para uma emissão de títulos de dívida em 2015 e para o plano de IPO de 2016. O JPMorgan, o maior participante das transações da JBS antes do evento de 2014 da Hillshire, nunca mais participou de uma emissão de títulos da empresa depois disso.

A JBS espera chegar a um acordo com as autoridades dos EUA no momento em que estiver pronta para levar o IPO ao mercado, embora esse acordo não seja uma precondição para a venda de ações, pois a empresa tem mostrado lucros crescentes e menor alavancagem, disse outra pessoa.

Embora o Barclays tenha sido o único a trabalhar em todas as emissões de títulos da dívida externa da JBS desde 2017, outros bancos participantes foram o Rabobank, o Royal Bank of Canada, a BB Securities, o Banco Bradesco BBI, o Banco BTG Pactual, o Banco Santander e o Bank of Montreal, conforme mostram dados compilados pela Bloomberg.

--Com a colaboração de Felipe Marques e Donal Griffin.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Fernando Travaglini, ftravaglini@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Cristiane Lucchesi em São Paulo, clucchesi5@bloomberg.net;Gerson Freitas Jr. em São Paulo, gfreitasjr@bloomberg.net