IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Bancos japoneses começam a abandonar tecnologia do século 19

Yuki Hagiwara

11/03/2019 14h35

(Bloomberg) -- Levou mais de um século, mas os bancos japoneses finalmente deixarão de usar uma tecnologia que não parecia avançada desde o reinado dos xóguns.

Hanko, o carimbo pessoal exigido até para fazer transações simples no Japão desde o século 19, será eliminado gradativamente em algumas das maiores instituições financeiras do país.

Os bancos começaram a permitir que os clientes transfiram dinheiro ou realizem pagamentos pelo smartphone ou tablet, em vez de usar o carimbo de madeira e tinta no papel como seus antepassados. Para os jovens do Japão, um dos lugares mais obcecados por tecnologia do planeta, já estava na hora de mudar.

"Dá muito trabalho levar o hanko e fazer a papelada só para sacar dinheiro nas agências", disse Tomoyuki Shiraishi, um operário de 24 anos em Kurashiki, no oeste do Japão.

Após chegarem tarde à revolução da tecnologia financeira, os bancos japoneses estão correndo para se atualizar na tentativa de reduzir a burocracia, aumentar a eficiência e atrair as gerações mais jovens.

As pequenas empresas usam o hanko para muitos contratos, e esses carimbos continuarão sendo exigidos para coisas como se casar e comprar uma casa.

Um exemplo da mudança é o Mitsubishi UFJ Financial Group: o maior banco do país começou a oferecer contas que não exigem hanko nem cadernetas e está reformando sua rede de agências para substituir fileiras de caixas por tablets e cabines de vídeo.

A meta é ajudar os clientes a se adaptarem às plataformas digitais para poderem fazer mais operações bancárias com seus próprios dispositivos. Uma centena das mais de 500 agências do MUFG no Japão vai adotar o novo formato até 2024. O banco com sede em Tóquio planeja reduzir pela metade o número de agências com balcões tradicionais no mesmo período.

O MUFG não é o único. No ano passado, o banco Resona Holdings passou a permitir que os clientes abram contas sem hanko em cerca de 600 agências. A mudança para o formato digital conta com o apoio do governo do primeiro-ministro Shinzo Abe, que redigiu um projeto de lei para disponibilizar mais serviços públicos on-line.

Vencer a burocracia japonesa não tem sido fácil. O MUFG demorou dois anos para convencer 450 governos locais a começar a processar eletronicamente o pagamento de impostos, disse Takayuki Ogura, diretor da principal unidade bancária do grupo.

Muitos pais compram um hanko feito à mão para os filhos quando eles atingem a maioridade, e os turistas os levam como lembrancinhas, disse Keiichi Fukushima, entalhador licenciado e membro da quarta geração de proprietários de uma loja que vende os carimbos no histórico distrito de Ueno em Tóquio. A fabricação de hanko é um setor que gera US$ 1,5 bilhão por ano, disse Fukushima, vice-presidente da associação nacional do setor.

"Ainda há muitas ocasiões em que precisamos usar hanko em nossa vida", disse Fukushima.

Minami Yoshida, 26, que trabalha no departamento de contabilidade de uma fabricante de peças industriais em Kawasaki, perto de Tóquio, gostaria que não houvesse tantas dessas ocasiões. Para poder pagar aos fornecedores, Yoshida tem que carimbar formulários de transferência de dinheiro com o hanko de sua empresa e levá-los até o banco para processá-los. "Sinto que simplesmente não é eficiente", disse ela.