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Opep será pressionada por xisto dos EUA até 2024, diz AIE

Grant Smith

11/03/2019 12h09

(Bloomberg) -- A perda de poder de mercado da Opep para o país que já foi seu maior cliente continuará até meados da próxima década devido ao crescimento do petróleo de xisto dos EUA.

Até 2024, a capacidade da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de bombear petróleo bruto encolherá de fato devido a declínios no Irã e na Venezuela, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Com o crescimento dos concorrentes, a quantidade de petróleo bruto do cartel que o mundo necessita todo ano não voltará aos níveis anteriores a 2016 -- antes de a Opep começar a reduzir a produção -- durante esse período.

O relatório pode ser desanimador para a Opep, que limitou a produção nos últimos dois anos para evitar um excesso global que derrubaria os preços. Apesar de terem alcançado boa parte desses objetivos, os cortes também deram força à explosão do petróleo de xisto nos EUA, ajudando o país a se tornar o maior produtor de petróleo do mundo.

A expansão energética dos EUA continuará, respondendo por 70 por cento do crescimento da capacidade de produção global até 2024, informou a AIE em Paris, em seu relatório de médio prazo. No ano citado, o país poderia exportar 9 milhões de barris por dia, superando a capacidade de exportação da Rússia e se aproximando da capacidade da Arábia Saudita, afirmou a agência.

"Os EUA continuam dominando o crescimento da oferta a médio prazo", afirmou a AIE, que assessora a maior parte das grandes economias do mundo em termos de política energética.

Com a complementação do crescimento da oferta americana por Brasil, Noruega e Guiana, a AIE elevou significativamente as projeções de oferta nova de petróleo de fora da Opep, em até 3,3 milhões de barris por dia até 2024.

Como resultado, as estimativas para o petróleo bruto necessário dos 14 integrantes da Opep foram reduzidas. Até 2024, o mundo precisará de ainda menos petróleo do grupo do que o que ele bombeava antes do início dos cortes de produção. Isso sugere que o grupo precisará insistir com suas atuais restrições à produção na próxima década, afirmou a AIE.

A quantidade de petróleo que a Opep é capaz de bombear também deverá piorar, diminuindo em 380.000 barris por dia até 2024, para 34,53 milhões. As sanções dos EUA paralisarão o setor de petróleo no Irã e a turbulência econômica prejudicará a Venezuela, informou a agência.

Se as restrições americanas continuarem em vigor no Irã, a capacidade de produção da república islâmica cairá 1,2 milhão de barris por dia, para 2,65 milhões em 2024, e a da Venezuela, em 56.000 barris por dia, para 750.000.

Entre os países da Opep, apenas o Iraque e os Emirados Árabes Unidos deverão ampliar significativamente sua capacidade de produção, segundo projeções da AIE. O Iraque adicionará 900.000 barris por dia até 2024 e chegará a 5,8 milhões por dia, e os Emirados Árabes Unidos aumentarão em 500.000 barris, alcançando 3,85 milhões por dia. Se as sanções contra o Irã forem canceladas, a capacidade coletiva da Opep se expandirá em 820.000 barris por dia.

A agência manteve sua previsão para a taxa de crescimento da demanda global por petróleo, projetando um aumento anual de 1,2 milhão de barris por dia, ou de 1,1 por cento, até 2024. As disputas comerciais e a perspectiva de um "Brexit desordenado" representam riscos para essas projeções.