A política monetária na era do dinheiro barato
(Bloomberg) -- A política monetária deve funcionar da seguinte maneira: reduza as taxas de juros e incentive as empresas e as famílias a emprestar, investir e gastar. Mas não está sendo assim.
Na era do dinheiro barato, agora em sua segunda década na maior parte do mundo desenvolvido (e terceira no Japão), houve muitos empréstimos. Mas são os governos que estão tomando recursos.
Os números ajudam a explicar a crescente sensação de que os bancos centrais, que tomaram medidas de emergência para tirar as economias da crise de 2008, podem não conseguir repetir o truque em outra recessão.
Eles ainda estão enfrentando questões mais amplas sobre sua independência em relação à política. Na década passada, os agentes privados ainda endividados não estavam dispostos a mergulhar de novo no vermelho, mesmo a taxas baixíssimas projetadas pelos bancos centrais - enquanto os governos não só podiam, como fizeram. A linha divisória está começando a parecer confusa.
'Cauda pesada'
Alguns analistas dizem que é hora de redesenhá-lo.
A relação de políticos e banqueiros centrais "foi construída quando a cauda pesada era uma inflação excessivamente alta", disse Paul McCulley, o ex-economista-chefe da Pimco. "Agora a cauda gorda é uma inflação excessivamente baixa, chamamos de deflação. Precisamos atualizar nosso pensamento para um postura mais cooperativa entre as autoridades fiscais e monetárias"
A maioria dos economistas vê isso como um declive escorregadio que poderia induzir a uma espiral de preços fora de controle. Essa é uma das razões pelas quais eles desconsideram a Teoria Monetária Moderna, uma escola de pensamento que suporta déficits maiores e não se preocupa com o financiamento dos bancos centrais. Os economistas dessa linha dizem que a dívida pública é geralmente mais segura do que a privada
A questão é viva e não apenas na academia. Isso ganha tônus toda vez que o presidente Donald Trump cutuca o Federal Reserve. Existem pressões políticas semelhantes em outros países.
'Um pouco lento'
Também crescem os apelos para que os governos impulsionem as economias, se os bancos centrais não puderem.
O Banco Central Europeu acaba de ser forçado a postergar qualquer esforço para normalizar a política monetária. As perspectivas de crescimento da região "são um pouco lentas", disse Isabelle Mateos y Lago, estrategista-chefe de ativos múltiplos do BlackRock Investment Institute, em entrevista à Bloomberg TV esta semana. "Poderíamos usar algum estímulo fiscal".
No Japão, houve mais cooperação entre os responsáveis pelos orçamentos e aqueles que gerenciam as taxas de juros do que praticamente em qualquer outro lugar.
Quando o governo e o banco central trabalham em conjunto, "os efeitos de sinergia de ambos os lados podem produzir estímulos econômicos mais fortes", disse o ex-vice-governador do BoJ Kikuo Iwata, um arquiteto-chave do plano. Ele argumentou que a política monetária fez o que pode, e que o Japão - que já tem o maior fardo de dívida pública do mundo - precisa de mais estímulo fiscal para completar sua saída da deflação.
No calor da crise, a colaboração entre governos e bancos centrais foi bastante explícita em quase toda parte. Em 2008, nos EUA, por exemplo, o Fed de Ben Bernanke e o Tesouro de Henry Paulson rapidamente formaram uma equipe. Na Europa, alguns anos depois, Mario Draghi indicou o compromisso de fazer "o que fosse preciso" para preservar a moeda única, o que deu à dívida do governo italiano um respiro e reduziu os rendimentos.
Empréstimos públicos a taxas baixas provaram ser uma maneira eficaz de colocar um piso sob a Grande Recessão. Os EUA e o Japão fizeram mais do que a Europa, onde não há uma autoridade central capaz de explorar os mercados de crédito e gastar em benefício do continente - e eles tiveram melhores recuperações.
O problema para os formuladores de políticas é que o que uma vez pareceu um paliativo de curto prazo na crise, na verdade, se estendeu por anos - tornando cada vez mais provável que a próxima recessão chegue com taxas de juros ainda baixas.
Nos EUA, vários economistas esperam uma recessão em 2020, um ano de eleição presidencial. O Fed terá algum espaço para cortar, embora menos do que os 500 pontos-base reconhecidos como uma resposta típica a uma economia em contração. Seus pares têm muito menos, se houver. E mesmo se tivessem, a história recente diz que provavelmente seriam os governos que aproveitariam as taxas mais baixas.
As piores recessões que atingiram os países desenvolvidos recentemente e alguns mercados emergentes ocorreram após acúmulo rápido de crédito privado - um dos motivos pelos quais os bancos centrais acharam difícil injetar estímulo. E hoje, as famílias e as empresas ainda estão altamente endividado pelos padrões do passado.
Ao contrário dos governos, eles não estão ansiosos por pedir mais dinheiro, por mais barato que seja.
--Com a colaboração de Emily Barrett e Francine Lacqua.
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