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Caixa prepara venda dos imóveis em carteira, diz presidente

Felipe Marques, Cristiane Lucchesi e Julia Leite

20/03/2019 07h00

(Bloomberg) -- Pedro Guimarães não teve tempo de se divertir no carnaval este ano.

Em vez disso, o recém-nomeado presidente da Caixa Econômica Federal passou a semana do feriado - incluindo seu aniversário - cortejando investidores em mais de 70 reuniões em Boston e Nova York. O executivo de 48 anos do banco estatal com a maior carteira de empréstimos do Brasil está promovendo uma ampla transformação, que inclui a venda de imóveis tomados de devedores inadimplentes e participações em subsidiárias. As medidas gerariam receita para pagar dívida perpétua ao Tesouro de R$ 40 bilhões.

Os desafios são muitos. Com R$ 1,3 trilhão em ativos, a Caixa é uma gigante que sofreu com baixos retornos nos últimos anos e acusações de que seus executivos aceitaram subornos em troca de empréstimos. O banco não tem ações negociadas em bolsa e possui uma reputação de ser uma espécie de caixa preta para investidores.

Guimarães, um veterano da indústria financeira que nunca teve um emprego no setor público antes, está tentando mudar isso tudo. Em uma entrevista abrangente, ele disse que está trabalhando para melhorar práticas contábeis e a transparência do balanço. Para evitar influências políticas, ele contratou a Russell Reynolds Associates para ajudar a contratar executivos e membros do conselho com experiência de mercado. A empresa já substituiu 90% de seus principais dirigentes.

"Nossa prioridade é reduzir brutalmente as despesas e fazer alguns movimentos estratégicos, mesmo antes de passarmos a vender fatias de nossas subsidiárias em bolsa", disse Guimarães, que assumiu como presidente em 7 de janeiro. Ele planeja listagens duplas no Brasil e em Nova York para vender participações minoritárias de suas unidades de seguro e cartão este ano. As subsidiárias de gestão de recursos de terceiros e de loteria vão abrir o capital em 2020, disse ele. As quatro vendas podem render R$ 15 bilhões.

Durante o Carnaval, o executivo visitou investidores de imóveis distressed que estão na carteira da Caixa após serem tomados por causa de atrasos no pagamento de financiamentos e que totalizam quase R$ 8 bilhões, segundo o balanço de setembro. É a maior carteira entre os bancos brasileiros.

Participação da Petrobras

A Caixa já alinhou vários ativos que deseja vender, incluindo uma participação de quase R$ 9 bilhões na Petrobras, transação que Guimarães espera concluir antes do meio do ano.

Outros planos incluem um esforço para redução de custos de R$ 3 bilhões em dois anos, e o leilão do direito de usar a rede de 26.000 agências e pontos de venda do banco - a maior do país - para vender produtos de seguro e cartões para gerar comissões para a Caixa.

Os planos para economizar capital para pagar o governo também afetarão a carteira de empréstimos do banco, de R$ 694 bilhões, a maior do Brasil, que Guimarães pretende reduzir principalmente cortando o crédito para grandes empresas. A carteira cresceu quase 10 vezes na última década, em meio a uma pressão de governos anteriores para oferecer crédito mais barato por meio de bancos estatais. Para apoiar esse esforço, o Tesouro emprestou ao banco R$ 40 bilhões por meio de instrumentos de dívida perpétua que são usados como capital.

"Cada centavo de ganhos extraordinários que tivermos nos próximos anos será usado para pagar essa dívida", disse ele.

Para liderar a venda de ativos, Guimarães trouxe o ex-executivo de banco de investimento do UBS Group AG Andre Laloni como diretor financeiro. Desde sua chegada, um fundo administrado pela Caixa já vendeu sua participação de R$ 2,5 bilhões no IRB Brasil Resseguros SA, a maior resseguradora da América Latina. A venda, que foi a primeira privatização do novo governo, deu à Caixa um ganho de mais de 800% desde quando comprou as ações em 2015.

"Estamos na Caixa há menos de 90 dias, mas a quantidade de coisas que já fizemos é enorme", disse Laloni.

Clientes de baixa renda

O banco tem mais de 100 milhões de clientes, a maioria de baixa renda, que dependem de sua rede para obter benefícios sociais, além de gerenciar desembolsos para vários projetos de infraestrutura no Brasil.

"A Caixa tem um relacionamento de credor com os clientes, mas é isso - eles não compram mais nada", disse ele, acrescentando que apenas cerca de 15 milhões de clientes usam outros produtos. Mais vendas cruzadas podem gerar uma receita adicional de R$ 2 bilhões. A estratégia também está ajudando o banco a ganhar negócios de banco de investimento - algo que nunca havia feito antes.

Entre os imóveis que podem ser colocados à venda ??estão sete prédios na Avenida Paulista em São Paulo e 15 em Brasília, onde está localizada a sede da Caixa. Guimarães está renegociando contratos com fornecedores e planeja transferir os escritórios do banco do Rio de Janeiro para um prédio no qual o banco é credor.

Supervisionar toda essa mudança na Caixa significa sacrificar o tempo dedicado à família.

"Desde janeiro não tenho um fim de semana, meu aniversário foi na época do Carnaval, eu estava trabalhando nos Estados Unidos, longe dos meus filhos", disse Guimarães, acrescentando que seus filhos tiveram que viajar para o Amapá, no norte do Brasil, para conseguir vê-lo. Mas visitar regiões longínquas tem compensado. "Estamos identificando problemas reais, ganhando eficiência e vendendo mais serviços e produtos."