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Crise global no frete marítimo se agrava após Brumadinho

Krystal Chia

28/03/2019 11h40

(Bloomberg) -- O primeiro trimestre vai chegando ao fim e o saldo dos mercados de ações e commodities é bastante positivo para os investidores. No mercado de fretes marítimos, há sinais de crise.

As tarifas para transporte nos maiores navios de cargas secas desabaram para os menores valores em três anos. Os donos de embarcações estão perdendo dinheiro e a tendência é piorar.

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em janeiro foi seguido pela redução da produção de minério de ferro. O Baltic Exchange Capesize Index caiu quase 90 por cento e pode atingir a menor pontuação desde que começou a ser calculado, em 2014. A diária de um navio do tipo Capesize, na média, está em US$ 3.763. Neste valor, os proprietários dos navios não conseguem cobrir custos e provavelmente estão queimando caixa, segundo o analista sênior da Bloomberg Intelligence, Rahul Kapoor.

"Pode ser um ano de tempestade para o segmento Capesize", disse Kapoor. "A recuperação depende da normalização dos volumes da Vale no segundo semestre."

A crise no Brasil foi mais um golpe em um mercado que já enfrentava a demanda sazonalmente fraca e desaceleração da economia global, acrescentou o analista.

O minério de ferro é a maior carga a granel seca em termos de volume transportado. Anualmente, 1,6 bilhão de toneladas de minério de ferro são carregadas por navios. O problema da Vale provocou a queda desses fretes. A crise se desdobra em um contexto de desaquecimento das principais economias, prejudicando a compra e venda de mercadorias. Dados divulgados nesta semana mostraram que o comércio internacional sofreu o maior recuo desde 2009 entre novembro e janeiro.

Distância entre Brasil e China

A meta original da Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, era vender 400 milhões de toneladas do produto neste ano. A empresa é fator determinante no mercado de fretes. O impacto do desastre em Brumadinho foi amplificado pela distância entre Brasil e China, segundo Kapoor.

Na última medição, o índice que acompanha o segmento Capesize estava em 190, a menor pontuação desde março de 2016. Se cair ainda mais, pode ficar abaixo da mínima daquele mês, de 161 pontos, alcançada quando a freada da economia chinesa prejudicou o mercado de matérias-primas.

Segundo relatório trimestral de produção divulgado na terça-feira, depois do desastre em Brumadinho, a Vale suspendeu operações em unidades que produzem quase 93 milhões de toneladas anualmente. A concorrente australiana Fortescue Metals Group alertou que o mercado de exportação enfrenta um déficit.

Sinais de desaceleração

Os embarques de minério do Brasil continuaram após o rompimento da barragem em janeiro, em parte porque havia estoque, mas agora os fluxos estão diminuindo. O ritmo de embarques do Brasil recuou desde meados de março, de acordo com relatório publicado nesta semana pelo Morgan Stanley com base em dados sobre o tráfego de navios. O analista Hui Heng Tan, da Marex Spectron, diz que continua observando "desaceleração dos volumes de minério de ferro que chegam à China".

Os portos de Tubarão (em Vitória, no Espírito Santo) e Qingdao estão a 20.000 quilômetros de distância (11.000 milhas náuticas). A viagem de ida e volta por um navio do tipo Capesize, passando pelo Cabo da Boa Esperança, demora de 85 a 90 dias, segundo a Bloomberg Intelligence. De Hedland, principal porto de minério de ferro da Austrália, para o mesmo porto na China, a distância é de 3.500 milhas náuticas e a viagem de ida e volta leva de 30 a 32 dias. A redução dos embarques do Brasil reduz a demanda por navios na jornada mais longa.