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Johnson surpreende ao entrar em acordos com vítimas de câncer

Jef Feeley, Margaret Cronin Fisk e Tom Korosec

28/03/2019 14h40

(Bloomberg) -- A Johnson & Johnson tomou a rara decisão de entrar em acordo com três mulheres que alegam que tiveram câncer por usar o talco da marca, contaminado com amianto. Com isso, os casos não serão ouvidos por jurados nos EUA, o que potencialmente abriria um novo campo de batalhas judiciais contra a maior empresa mundial de produtos para a saúde.

Na quarta-feira, jurados em um tribunal estadual em Oklahoma City tinham passado três horas discutindo se o talco para bebês da Johnson influenciou o surgimento de mesotelioma peritoneal em uma mulher de 77 anos quando o juiz anunciou que as duas partes tinham entrado em acordo. Os detalhes do acerto não foram revelados.

No mesmo dia, a Johnson fez um acordo confidencial que abreviou um julgamento em Los Angeles, envolvendo uma mulher de 36 anos. Ela afirma que teve mesotelioma porque usou produtos da empresa desde a infância. O mesotelioma é um câncer na membrana dos órgãos abdominais que especialistas atribuem à exposição ao amianto. A companhia também colocou um ponto final em um caso similar que seria julgado em Nova York no mês que vem.

Diferentemente de outras farmacêuticas, a Johnson não costuma entrar em acordo judicial rapidamente, portanto a resolução de três casos em tão pouco tempo mostra que seus executivos e advogados talvez tenham um novo olhar para os casos envolvendo o talco, disse Jean Eggen, especista em acusações coletivas e professora de Direito da Universidade Widener.

"Parece que eles decidiram limitar o prejuízo em alguns casos e seguir em frente", disse ela. "Frequentemente, esse tipo de exame minucioso leva a acordos."

A Johnson negou qualquer mudança na estratégia de litígio, reafirmando que a linha de talcos não contém amianto e que não escondeu dos consumidores os riscos à saúde associados ao talco.

"Não temos qualquer programa organizado para fazer acordos judiciais nos casos envolvendo talcos para bebês da Johnson nem planejamos um programa de acordos", afirmou a porta-voz Kim Montagnino em comunicado enviado por email.

Os últimos acordos judiciais aumentam a complexidade do histórico de processos vinculando talco e câncer que foram movidos contra a empresa nos EUA. A Johnson prevaleceu em um julgamento em Nova Jersey na quarta-feira, duas semanas depois de um júri em Oakland, na Califórnia, determinar o pagamento de US$ 29 milhões por danos causados. A companhia ainda enfrenta mais de 13.000 processos que vinculam o talco a casos de mesotelioma e câncer de ovário.

Em St. Louis, em 2018, a Justiça deu vitória e US$ 4,69 bilhões a 22 vítimas de câncer de ovário, mas a Johnson conseguiu reverter algumas decisões do júri.

Todos os acordos realizados até agora se referem a vítimas de mesotelioma, doença que costuma ser fatal pouco tempo depois do diagnóstico. Os julgamentos acontecem mais rapidamente por causa das mortes e do vínculo com processos passados em torno do amianto.

Todas as mulheres que entraram em acordo com a companhia na quarta-feira eram representadas pelo escritório de advocacia Simon Greenstone Panatier, de Dallas, que no ano passado convenceu um júri da Califórnia a conceder US$ 25,7 milhões a uma mulher que dizia que seu mesotelioma foi causado pela exposição ao amianto contido no talco.

Em 2017, Sharon Pipes, a acusadora de Oklahoma, foi diagnosticada com mesotelioma peritoneal. Segundo seus advogados, ela usou talco da Johnson durante 50 anos.

Uma das juradas do caso revelou que o grupo provavelmente declararia a Johnson culpada."O que me convenceu foram todos os documentos internos da Johnson &Johnson'', disse a jurada Frances Harris, fonoaudióloga de 65 anos. "Eles escreveram que sabiam que havia amianto, mas continuaram dizendo que tinham 'tolerância zero com amianto'.''

De acordo com advogados da empresa, anos de testes não encontraram a substância cancerígena nos produtos.

Alguns dos vereditos determinaram que a fornecedora de talco da Johnson, Imerys America, também pagasse indenizações. A companhia pediu concordata em fevereiro.

Repórteres da matéria original: Jef Feeley em Wilmington, Delaware, jfeeley@bloomberg.net;Margaret Cronin Fisk em Detroit, mcfisk@bloomberg.net;Tom Korosec em Nova York, tkorosec@bloomberg.net