Para Bayer, não é fácil dispensar jurados no caso Roundup
(Bloomberg) -- Dias antes do segundo julgamento da Bayer sobre o Roundup, a empresa vislumbrou porque tem uma grande chance de ser derrotada.
Na seleção do júri no tribunal federal de São Francisco, os possíveis jurados responderam se já haviam ouvido falar de Monsanto.
"Sim", um respondeu por escrito, acrescentando em maiúsculas: "EVIL!", que quer dizer má ou cruel.
A Bayer adquiriu a Monsanto no ano passado e hoje soma 11.000 ações judiciais que reivindicam que o herbicida Roundup causa câncer. À medida que esses casos vão a julgamento, a empresa não terá nenhum problema em dispensar pessoas obviamente tendenciosas do banco do júri, com base em regras que permitem advogados, de ambas as partes, e o juiz, façam isso.
Para a Monsanto, cujas operações nos EUA estão sediadas em St. Louis, perto do coração da agricultura americana, existem lugares mais amigáveis para enfrentar um júri do que São Francisco, onde a empresa perdeu seus dois primeiros casos relacionados ao Roundup, e Oakland, Califórnia, onde o terceiro julgamento começou esta semana.
Mas defender o Roundup será mais difícil em todos os lugares devido aos dois veredictos multimilionários que geraram manchetes mundiais sobre alegações de que uma empresa de nome familiar escondeu os perigos do seu produto mais vendido por décadas.
Entre os possíveis jurados que não foram escolhidos estava o epidemiologista que comparou o Roundup ao agente laranja, outra que confessou que "deve ter sentimentos negativos em relação ao Roundup" porque seu pai com câncer usou muitos herbicidas na sua fazenda e um terceiro que afirmou que "grandes empresas como a Monsanto precisam ser responsabilizadas e focar em ser saudáveis, como a Whole Foods."
Gayle Cunningham, que acabou presidindo o júri que emitiu o veredito de quarta-feira, poderia ser o tipo de jurada que a Bayer evitaria, mas que foi difícil dispensar porque ela prometeu ser justa. Cunningham, 59, de Windsor, California, deixou bem claro durante a votação que não é fã do Roundup.
"Meu marido usa e já discutimos sobre isso e porque eu não quero que ele use", Cunningham disse, de acordo com transcrição judicial. "Temos um novo cãozinho e ele sabe agora que precisa evitar usar Roundup até que o filhote cresça um pouco". Ela foi um dos membros do júri - 6 no total - que sabia pelo menos algo sobre o primeiro julgamento do Roundup que a Bayer perdeu no verão passado.
Naquele caso, o tribunal de São Francisco decidiu pela que a Bayer pague US$ 289 milhões em indenização - incluindo US$ 250 milhões em penalidade - após decidir por sua responsabilidade pelo defeito no produto e não alertar sobre os riscos no caso levado por uma ex-funcionária de uma escola que sofre com o câncer aos 40 anos.
Após serem dispensados, alguns jurados naquele caso decidiam escrever ao juiz quando a Bayer contestou o veredito. O juiz reduziu o valor da indenização para US$ 78,6 milhões, mas não retirou a importante conclusão de que a empresa era culpada pela doença da funcionária.
A ameaça de um júri muito tendencioso ainda existe para o advogado da Bayer, Brian Stekloff, que demonstrou preocupação na audiência de 20 de fevereiro.
Além de Cunningham, Frank Rieder, 36, de Oakland, disse ao tribunal que trabalha no atendimento ao cliente na Imperfect Produce, que tem como objetivo reduzir desperdício ao fornecer frutas e verduras danificadas diretamente dos agricultores para os clientes.
Na seleção do júri, Stekloff também fez perguntas a Kathleen Alford, 28, da Califórnia, que trabalha como gerente na Brandcast, que desenvolve websites.
Alford indicou que ela poderia "potencialmente" ter restrições com a Monsanto, e na seleção do júri disse que estava "cautelosa" por ser jurada em São Francisco. Ela acrescentou que seria igualmente cética em relação aos dois lados do processo.
Elizabeth Lee, 59, de Pacifica e nascida em São Francisco, também foi jurada. Assistente executiva do diretor de compliance, ética e integridade da Kaiser Permanente, Lee disse que 13 a 15 anos atrás ela usou Roundup no seu jardim, mas parou de usar desde então.
Lee era a única cuidadora de sua mãe, que morreu de câncer no ano passado, segundo ela.
Lee disse a Stekloff que ela poderia ser imparcial, mas que "ver a evidência pode apenas trazer algumas emoções reprimidas".
Três jurados foram dispensados durante o julgamento por doença, problemas e por motivos não revelados. Para ganhar o caso, Hardeman precisava - e conseguiu - uma votação unânime dos seis membros do júri restantes.
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