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Defensor de opioides muda de lado em ação contra farmacêuticas

Jef Feeley

09/04/2019 11h58

(Bloomberg) -- Um médico considerado um dos primeiros defensores do aumento do uso de opioides altamente viciantes, como o OxyContin, para tratar dores crônicas - e que foi pago para promover a ideia - mudou de lado e agora diz que as farmacêuticas ajudaram a criar uma epidemia nos Estados Unidos por não reconhecer os riscos do abuso dessas substâncias.

Russell Portenoy, um professor de medicina especialista em dores há mais de 30 anos, concordou em testemunhar contra o setor em julgamentos de processos movidos por governos locais, que buscam bilhões em indenizações por custos sociais associados aovício, segundo petições registradas em tribunais. Em depoimento juramentado,Portenoy disse que as farmacêuticas adotaram uma estratégia muito agressivapromovendo opioides para todos os tipos de doenças.

"Os fabricantes deveriam ter moderado suas mensagens positivas sobre os opioidescom um foco maior no risco, particularmente quando surgiram os primeiros sinaisde risco dos opioides", disse Portenoy em seu depoimento no tribunal. As farmacêuticas também "deveriam ter dado uma resposta com as evidências do aumento dos efeitos adversos" para aumentar a conscientização e "reduzir a prescrição inadequada ou arriscada", disse.

Portenoy mudou de lado no ano passado, depois que cidades e condados dos EUA concordaram em arquivar ações judiciais contra o médico em troca de cooperação, segundo informações dos processos. As partes chegaram a um acordo, e Portenoy forneceu documentos e testemunhos que poderiam ser usados nas ações judiciais contra fabricantes de opioides, como Purdue Pharma, Janssen, unidade da Johnson & Johnson, e Teva Pharmaceutical Industries.

De acordo com uma investigação de 2017 conduzida pela então senadora Claire McCaskill, de Missouri, mais de 50 mil americanos morreram por overdose de drogas em 2015,com um terço dessas mortes causadas por prescrição de opioides, como oOxyContin, fabricado pela Purdue Pharma, e o Subsys, da Insys Therapeutics.

Reconhecido como um dos principais especialistas dos EUA em tratamento de dores e um"formador de opinião" de peso, Portenoy testemunhará que as empresas "exageraram os benefícios da terapia crônica com opioides" e "subestimaram os riscos dos opioides, particularmente o risco de abuso, vício e overdose", segundo processo em um tribunal federal.

As informações sustentam o argumento de governos locais de que o marketing ilegal por parte dos fabricantes de opioides criou uma crise de saúde pública que tem consumidobilhões de dólares em recursos. A acusação diz que essas táticas de vendas enganosascriaram um "transtorno público" que responsabiliza as empresas peloscustos sociais ligados à epidemia.

Robert Josephson, porta-voz de Purdue, não quis comentar as declarações de Portenoy. O médico não respondeu imediatamente a um pedido de entrevista na segunda-feira.

Agências reguladoras geralmente limitam a prescrição de opioides - alguns dos quais sãomil vezes mais potentes do que a morfina. Embora médicos tenham ampla autonomiapara prescrever medicamentos além dos tratamentos para os quais foramautorizados, as farmacêuticas só podem comercializar seus produtos para doençasaprovadas pelos órgãos reguladores.

--Com a colaboração de Andrew Harris.