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Fundos de hedge questionam a ética dos investimentos não éticos

Bei Hu

16/04/2019 15h57

(Bloomberg) -- A Albourne Partners foi fundada há mais de 20 anos e dá consultoria a instituições que administram juntas mais de US$ 500 bilhões em ativos alternativos.

Pela primeira vez, a Albourne exigiu que quase 650 fundos de hedge monitorados respondessem a perguntas sobre como abordam assuntos ambientais, sociais e de governança. A decisão chamou a atenção para uma mudança difícil no setor, mas que não pode ser ignorada.

A nova exigência também se aplica a outras gestoras de ativos alternativos (como firmas especializadas em aquisições) sob a alçada da Albourne. Porém, fundos de hedge geralmente são mal equipados para lidar com a maior ênfase em investimentos com preocupações sociais, ambientais e de governança (conhecidas pela sigla em inglês ESG).

Alguns fundos compram e vendem instrumentos financeiros em microssegundos e é fundamental que possam tomar decisões de investimento sem restrições - incluindo apostas na queda do valor de ativos ou vendas a descoberto. Levar temas ESG em consideração aumenta a complexidade das negociações em um segmento que movimenta US$ 3,1 trilhões e há anos entrega taxas de retorno decepcionantes.

A equação é mais simples para investidores que só apostam na valorização dos ativos. Basta não comprar ações de empresas com práticas desagradáveis de ESG. A pergunta é se um investidor pode vender a descoberto os papéis de companhias com princípios menos nobres e lucrar em cima disso.

Independentemente dos méritos das restrições adicionais de caráter ético, a pressão está aumentando ? vindo dos fundos de pensão e fundos beneficentes que se tornaram fontes ainda mais importantes de capital desde a crise financeira global.

"Nos últimos 12 a 18 meses, comecei a sentir que atingimos um ponto de inflexão, com os gestores de ativos alternativos levando ESG realmente a sério", disse Edward Mason, que comanda a área de investimentos responsáveis da Church Commissioners for England, entidade encarregada de administrar o fundo de 8,3 bilhões de libras esterlinas (US$ 10,9 bilhões) da Igreja Anglicana. "Se um gestor não estiver fazendo isso, corre perigo de ficar para trás."

A Church Commissioners for England tem uma "lista de exclusão" desde 1948 que hoje inclui empresas de armamentos, pornografia, cigarros, cassinos, mineradoras de carvão térmico e instituições que emprestam a juros altos.

Cigarros e pesquisas com células-tronco

Brad Lindenbaum, diretor de investimentos do fundo de hedge Stone Forest Capital, de Nova York, já precisou conversar com investidores que questionaram aplicações envolvendo armas, cigarro, aborto e pesquisas com células-tronco. Segundo ele, é mais difícil investir com restrições ambientais, sociais e de governança, mas é possível lidar com esses desafios. A questão maior ? em tempos de resgate de dinheiro dos fundos e pressão ininterrupta sobre as comissões ? é o custo adicional que essas restrições impõem.

"O problema é que a escala dos fundos de hedge geralmente é bem menor", explicou Lindenbaum. "Por causa disso, o ônus sobre a firma é proporcionalmente maior. Se uma firma tem diversos clientes com diferentes listas de exclusão, os custos legais e administrativos e a complexidade operacional aumentam."

Na Suíça, a LGT Capital Partners também resolveu fazer mais pressão. A gestora com quase US$ 60 bilhões em ativos incentiva todos os fundos de hedge interessados em seus recursos a aderir a uma plataforma que permite monitoramento diário de suas posições.

Aproximadamente 40 fundos de hedge estão na plataforma, segundo o sócio Werner von Baum. A LGT atribui nota de 1 a 4 a cada gestora em temas ESG (1 é a nota mais alta) e todas precisam adotar uma lista de exclusão criada pela Sustainalytics, empresa especializada em orientação e engajamento com riscos.