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Proprietários na Índia arregaçam mangas para concluir construção

Dhwani Pandya e Pooja Thakur

25/04/2019 15h35

(Bloomberg) -- Lalit Vazirani, um programador de computadores de Mumbai, nunca pensou em ter de se transformar em um empreendedor amador.

No entanto, precisou, uma década depois de dar entrada em um apartamento perto do aeroporto da cidade, lidando com arquitetos, impostos, vários alvarás de planejamento e até audiências judiciais. Tudo porque a construtora responsável pelo projeto de US$ 50 milhões faliu, e ninguém mais assumiu o trabalho.

"Nunca imaginamos que um dia teríamos as funções e o papel de um empreendedor", disse Vazirani, 45 anos, que comprou um apartamento de dois dormitórios antes do início das obras.

Poucas coisas ilustram o mal-estar no mercado imobiliário da Índia tão claramente quanto os futuros proprietários de imóveis que dedicam horas incontáveis para concluir os apartamentos para os quais passaram anos economizando.

Embora não haja estimativas para o número de pessoas na mesma condição de Vazirani, o mercado imobiliário da Índia está lutando para administrar cerca de US$ 65 bilhões em projetos em vários estágios de conclusão, ou, em muitos casos, nem concluídos ainda.

É um problema que possivelmente mina a confiança dos compradores de residências, complicando ainda mais as tentativas das construtoras de abrir caminho para sair de enormes dívidas.

Tantos projetos de construção atrasados "enfraqueceram gravemente a esperança em quaisquer propriedades já em construção e reviver a confiança dos compradores é uma tarefa hercúlea", disse Anuj Puri, presidente da Anarock Property Consultants. "Se as pessoas pararem de comprar, as construtoras viverão um momento muito mais desafiador para angariar fundos de fontes externas para a construção".

Uma série de choques econômicos nos últimos três anos, desde a retirada inesperada de notas de rúpias de alto valor em 2016 até o imposto sobre vendas introduzido no ano seguinte, afetou o sentimento do mercado imobiliário e fez com que o financiamento para a construção diminuísse.

Em um empreendimento residencial no estado de Uttar Pradesh, os futuros proprietários irão monitorar a construção depois que um órgão regulador local interferiu.

A amortização das dívidas das construtoras chega a US$ 18,5 bilhões a cada ano, dizem os dados da Liases Foras. Além disso, alguns bancos aumentaram drasticamente as taxas de juros que cobram das empreiteiras para novos financiamentos.

Os negócios imobiliários já representam o maior número de casos de processos de falência de dois anos da Índia. O ex-presidente da empreiteira Orbit, Pujit Aggarwal, diz que está tentando ajudar fornecendo experiência em construção e regulamentação.

Foram "apenas decisões de investimento ruins" que resultaram na ruína da Orbit, disse ele. Mudanças regulatórias também afetaram os planos de construção. O grupo de proprietários de residências da Orbit espera que ganhos com os preços dos imóveis residenciais, já que pagaram seus depósitos iniciais, juntamente com a boa localização do empreendimento, signifiquem que eles finalmente façam progresso.

Primeiro terão que pagar 300 milhões de rúpias (US$ 4,3 milhões) para a LIC Housing Finance, um credor ao qual a Orbit deve dinheiro, e depois uma estimativa de 1,2 bilhão de rúpias para concluir o projeto.

Repórteres da matéria original: Dhwani Pandya em Mumbai, dpandya11@bloomberg.net;Pooja Thakur em Cingapura, pthakur@bloomberg.net