Produtores brasileiros vão avaliar herbicida da Bayer nos EUA
(Bloomberg) -- A Bayer tem um público bem exigente analisando sua mais nova tecnologia agrícola. A principal associação de produtores de soja do Brasil e representantes do Ministério da Agricultura planejam uma visita aos Estados Unidos para avaliar se o governo brasileiro deve permitir o uso de alguns dos produtos da Bayer.
O grupo quer observar mais de perto a experiência americana com o uso do dicamba, segundo Antonio Galvan, presidente da Aprosoja Mato Grosso, que organiza a viagem. A visita reflete o receio de produtores diante das consequências de uma possível aprovação do herbicida no Brasil, depois de agricultores americanos processarem a empresa por causa do herbicida.
"Queremos colher mais relatos e informações sobre o uso do dicamba nos EUA e saber o que realmente pode acontecer com a agricultura brasileira", disse Galvan em entrevista por telefone. "Nossa recomendação para o Ministério da Agricultura é de muito cautela nessa questão."
A Bayer enfrenta processos em toda a região Centro-Oeste dos Estados Unidos. Agricultores alegam que o herbicida da empresa à base de dicamba, conhecido como XtendiMax, se espalhou para lavouras próximas quando vaporizado, afetando culturas não resistentes. A empresa alega que o problema ocorreu porque os agricultores aplicaram o pesticida de forma incorreta e diz que as fórmulas atuais não devem afetar outras áreas se as instruções forem seguidas.
No Brasil, dois herbicidas à base de dicamba são aprovados para o cultivo de soja - o Atectra, da BASF, e o Dicamba, da Monsanto, que foi comprada pela Bayer no ano passado. Outros 27 produtos estão sendo avaliados, segundo o Ministério da Agricultura.
A Bayer vai começar os testes no Brasil com sua nova tecnologia à base de dicamba em 2019-20, e o lançamento comercial é esperado para 2021, dependendo da aprovação de países importadores, disse a empresa em resposta por e-mail a perguntas. A biotecnologia foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biosseguranca (CTNBio), e o Ministério da Agricultura ainda precisa registrar as variedades que serão comercializadas, segundo a Bayer. A empresa também aguarda a aprovação de uma nova formulação de dicamba no país.
A delegação que irá aos EUA, provavelmente para o Meio Oeste, deve realizar a visita em meados do ano e contará com representantes da Aprosoja e do Ministério da Agricultura, disse Galvan, acrescentando que os detalhes da agenda ainda precisam ser definidos. O Ministério da Agricultura não quis comentar a viagem.
"Não somos contra novas tecnologias, mas não apresentamos nenhuma demanda para esse tipo de produto e nem urgência na aprovação. Os herbicidas disponíveis são suficientes para o controle de ervas daninhas."
A Bayer diz que sua tecnologia XtendiMax e VaporGrip é uma ferramenta essencial para ajudar agricultores a lidar com ervas daninhas de difícil controle.
"Continuamos aprimorando nossos esforços em treinamento e formação para ajudar os produtores dos EUA a usarem essa tecnologia com sucesso, e clientes dos EUA continuam relatando que obtiveram resultados esperados e excepcional controle de ervas daninhas com o XtendiMax", segundo a empresa.
O Ministério da Agricultura se reuniu com produtores, pesquisadores e multinacionais para discutir a aprovação do uso do herbicida em culturas resistentes ao dicamba no mês passado. O governo também conversou com o executivo da Bayer Otavio Cancado no início do mês, segundo informações do site do ministério.
Agricultores brasileiros também buscam proteção contra possíveis ações judiciais envolvendo o uso do dicamba.
"Se o produto for aprovado, o governo terá de fazer uma legislação especifica para deixar claro que a empresa será responsabilizada por eventuais perdas que o herbicida possa provocar em lavouras vizinhas, e não o agricultor que fez a aplicação."
Em 2018, agricultores dos EUA pulverizaram o dicamba em cerca de 50 milhões de acres de lavouras de soja e algodão. Desse total, cerca de 1 milhão de acres de soja foram afetados pelo herbicida. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA renovou a licença dos produtos para as safras de 2019 e 2020, embora com maiores restrições.
Repórteres da matéria original: Isis Almeida Chicago, ialmeida3@bloomberg.net;Tatiana Freitas São Paulo, tfreitas4@bloomberg.net;Lydia Mulvany Chicago, lmulvany2@bloomberg.net
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