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Risco de controle de preços paira sobre refinarias da Petrobras

Sabrina Valle

06/05/2019 06h05

(Bloomberg) -- Quando em 2013 a então presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, voou para Pequim atrás de um sócio para as refinarias brasileiras, os chineses disseram a ela que não investiriam em um negócio que vendesse produtos abaixo dos preços de mercado.

Na época, a Petrobras subsidiava o preço de combustíveis por determinação do governo, que buscava com isso aliviar a inflação do país. A ingerência custou cerca de US$ 40 bilhões à divisão de refino da estatal entre 2011 e 2014. Agora, sob o governo de Jair Bolsonaro, a Petrobras planeja vender metade da capacidade de produção de combustível do Brasil.

O Brasil é visto um dos maiores mercados de combustíveis do mundo. Mas o longo histórico de interferências do governo nas decisões empresariais da companhia ainda está no cálculo de risco de potenciais investidores, com impacto direto no preço que estariam dispostos a pagar para entrar no negócio. No mês passado, as ações da Petrobras despencaram depois que Bolsonaro suspendeu o aumento do preço do diesel, até que sua equipe econômica viesse em socorro e o reajuste fosse finalmente implementado.

"Há muitos interessados em comprar as refinarias, mas o intervencionismo ainda é visto como um risco", disse Helvio Rebeschini, diretor de planejamento da Plural, associação que reúne as 17 maiores empresas de distribuição de combustíveis do país, entre elas potenciais compradoras. "Os investidores precisam se sentir seguros de que as regras acordadas sobreviverão ao longo de diferentes governos."

Houve dois outros casos no mês passado em que a confiança na independência das empresas controladas pelo Estado foi abalada pela especulação de que o presidente poderia estar interferindo em decisões corporativas.

Apenas uma semana depois do aumento do diesel, uma campanha publicitária do Banco do Brasil celebrando a diversidade e apresentando negros e transexuais foi retirada do ar e o diretor de marketing, demitido. Poucos dias após o episódio, Bolsonaro disse que faria uma brincadeira e pediu ao presidente do banco estatal para reduzir as taxas de juros agrícolas, durante um evento público do setor.

Nenhum desses dois episódios tem relação com o quase monopólio do governo no refino - a Petrobras ainda controla 98% da produção nacional. Mas eles também levantaram dúvidas sobre a disposição do governo de cumprir com sua agenda liberal. E não ajudaram a afastar a reputação do Brasil de interferir em empresas que têm dezenas de bilhões de ações em circulação nas mãos de investidores como BlackRock e Vanguard Group. O governo controla a Petrobras com menos da metade das ações, mas com a maioria daquelas que dão direito a voto.

"Reduzir a participação no refino para 50% é um passo muito importante, mas isso por si só não garante total independência", disse o analista do UBS AG, Luiz Carvalho, que considera a empresa sólida o suficiente para recomendar a compra de papéis.

O refino tem sido o calcanhar de Aquiles da Petrobras devido ao envolvimento do governo, acrescentou ele. Bolsonaro alcançou o poder prometendo ser um defensor da livre iniciativa e condenando os 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, cujos controles de preço custaram caro a acionistas.

Mas tentativas do novo presidente em interferir na Petrobras e no Banco do Brasil em abril lembram o passado recente do país. Movimentos repentinos que deixavam os investidores perplexos foram uma marca registrada no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que liderou a maior economia da América Latina rumo à pior recessão já vista no país.

Em 26 de abril, a Petrobras anunciou planos para vender oito refinarias com uma capacidade de processamento de petróleo bruto de 1,1 milhões de barris por dia. Também está na prateleira uma participação em sua rede de mais de 8.000 postos de gasolina.

Grandes companhias de petróleo como a Exxon Mobil e a Total, assim como as distribuidoras de combustíveis Raizen Energia e Ultrapar Participações, seriam candidatas naturais a comprar os ativos, disse Rebeschini. O mesmo vale para grandes empresas de comercialização de commodities, como Vitol, Glencore e Trafigura, disse ele.

O diretor-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, defende que a empresa estaria menos sujeita a intervenções do governo se tivesse de enfrentar a concorrência. Castello Branco negou que tenha havido interferência do governo no episódio do preço do diesel, dizendo que Bolsonaro tinha apenas expressado preocupação com uma possível greve dos caminhoneiros, o que ele, presidente da Petrobras, levou em consideração

A decisão de Bolsonaro de questionar o aumento do diesel da Petrobras foi de "grande imprudência", disse Rebeschini. Mas o governo ainda está aprendendo como a indústria funciona e tem tempo para dar garantias aos investidores, disse ele. Com uma população de quase 210 milhões, o mercado brasileiro tem muito potencial para crescer e compradores estão dispostos a serem convencidos, acrescentou.

Castello Branco disse que o processo de venda pode durar 18 meses. Isso daria tempo ao governo para aprovar reformas econômicas que reduziriam a pressão sobre os preços dos combustíveis e abririam caminho para uma política de longo prazo mais sustentável, disse Vicente Falanga, analista do Bradesco BBI, em uma nota a clientes em 28 de abril.

"As recentes questões relacionadas ao aumento do preço do diesel podem dificultar a busca por compradores da Petrobras", afirmou Falanga. "No entanto, há bastante tempo para uma solução."