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Brasil, rei do açúcar, tem novo queridinho: o etanol

Isis Almeida

30/05/2019 13h51

(Bloomberg) -- A maré virou no maior produtor global de açúcar.

Há apenas três meses, praticamente todas as tradings reunidas em Dubai previam que o Brasil voltaria a produzir mais açúcar, mantendo os preços sob pressão. Mas, desde então, a valorização das cotações de petróleo e demanda recorde de etanol indicam que mais cana-de-açúcar está sendo usada para processar o biocombustível.

As tradings pensavam que as usinas brasileiras haviam produzido o máximo de etanol possível no ano passado, mas investimentos recentes e ajustes operacionais feitos por empresas como Biosev, unidade da Louis Dreyfus, e Adecoagro abrem caminho para um volume ainda maior de etanol na principal região produtora do país.

"Há uma certa mudança no consenso", disse John Stansfield, analista veterano do Sopex Group, em entrevista este mês durante a Semana do Açúcar em Nova York, outro encontro de tradings. "Está se tornando evidente que a forte demanda por etanol no Brasil vai manter a paridade a favor do etanol."

As vendas do biocombustível subiram quase 35% nos primeiros três meses do ano, um reflexo da alta do petróleo que deixa o preço do etanol mais competitivo em relação à gasolina. Com isso, os preços do etanol continuam sendo negociados com prêmio em relação ao açúcar, fazendo com que o pêndulo se mova para um lado diferente do previsto em fevereiro em Dubai.

O clima úmido no início da temporada é outro fator que pesa na mudança, pois reduziu o teor de açúcar da cana, levando as usinas a produzir mais biocombustível.

O setor tem investido no aumento da capacidade de produção de etanol, desde a otimização de processos até o investimento em tanques para o armazenamento do caldo de cana. A Biosev planeja transformar 68% de cana-de-açúcar em etanol, acima da parcela de 63% no ano passado, disseram pessoas a par do assunto no início do mês. A Adecoagro fez ajustes operacionais e pequenos investimentos para aumentar a quantidade de caldo de cana que pode ser usado no etanol.

Com as mudanças, a Alvean, maior trading de açúcar do mundo, e a Cofco International, unidade da principal empresa de alimentos da China e dona de quatro usinas no Brasil, já projetam uma queda na produção de açúcar no Centro-Sul de cerca de 1 milhão de toneladas, para 25 milhões de toneladas.

Em entrevista em Nova York, Jonathan Drake, diretor operacional da RCMA Commodities Asia e ex-chefe de comércio de açúcar da Cargill, disse que a preferência pelo etanol deve reduzir a produção em 2 milhões de toneladas.

Opiniões divergentes

"Normalmente seria o caso de que o etanol chega a um ponto em que a oferta pressiona o preço e, em algum momento no futuro próximo, vemos o comércio de etanol com desconto em relação ao açúcar", disse Tom McNeill, diretor da Green Pool. "Essa é nossa tese básica. Vemos o preço do açúcar e do etanol muito mais próximos este ano do que no ano passado e, na verdade, o etanol às vezes está sendo negociado com desconto em relação ao açúcar."

O impacto que um provável desvio para o etanol teria no mercado mundial também divide as tradings. Alvean e Cofco disseram que esperam preços mais altos, enquanto a Green Pool avalia que o mercado não está precificando um grande déficit global caso o cenário de máxima produção de etanol se materialize. RCMA e Sucden são mais céticas.

"Não é o Brasil que impulsiona o mercado agora", disse Thierry Songeur, diretor-gerente da parisiense Sucden, em entrevista em Nova York no início deste mês. "É a Índia."

--Com a colaboração de Fabiana Batista e Millie Munshi.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net