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Amantes de pato na China ajudam exportações do Brasil

Alfred Cang

04/06/2019 08h47

(Bloomberg) -- A demanda por aves está em alta no sul da China, onde um dos pratos típicos é o frango marinado no sal.

Os cantoneses procuram alternativas à carne de porco diante da gripe suína africana que dizima plantéis de suínos na maior nação consumidora desse tipo de carne do mundo. A maior demanda por aves é uma boa notícia para os fabricantes de rações.

O consumo de carne de aves na China deverá crescer 20% este ano, com uma maior demanda por frango e pato, especialmente nas províncias do sul, segundo Hou Xueling, analista da Everbright Futures. A expectativa também é de maior atividade da piscicultura, que deve manter a demanda por farelo de soja, um dos ingredientes mais importantes da ração animal, em cerca de 65 a 67 milhões de toneladas este ano em comparação com 70 milhões de toneladas no ano anterior, disse.

"Os cantoneses gostam de frango, então há consenso de que muitas pessoas substituirão a carne de porco por carne de frango", disse Hou em entrevista por telefone após viajar por uma semana para realizar uma pesquisa na região sul de Guangdong no mês passado. A província, famosa por seu frango branco fatiado e pato assado, é uma das maiores produtoras de alimentos do país.

A crescente demanda por rações para aves pode trazer algum alívio para agricultores no Brasil, maior exportador de soja do mundo, que busca aumentar sua participação de mercado na China depois que o país asiático impôs tarifas de 25% sobre os produtos dos EUA.

O Departamento de Agricultura dos EUA estimou em abril que a produção de suínos na China cairia em 134 milhões de cabeças este ano, o equivalente a toda produção anual de suínos nos EUA, e a maior queda desde que começou a monitorar os dados em meados dos anos 70. As importações de carne bovina saltaram para um recorde em abril, enquanto as compras de carne suína do exterior subiram 24% em relação ao ano anterior.

Os fabricantes de ração estão aumentando as vendas para criadores de aves, e mantendo os estoques de farelo de soja para atender de cinco a sete dias de demanda, abaixo do normal devido às incertezas, disse Hou, citando conversas com sete empresas durante sua viagem. Três processadores de grande e médio porte disseram à Bloomberg que o setor está se concentrando em produzir mais ração à base de farelo de soja para peixes e aves com o objetivo de atender a demanda.

A China confirmou um novo surto da gripe suína africana na província de Yunnan, sudoeste do país, no fim do mês passado. As tentativas do governo chinês para controlar a doença têm sido insuficientes, sendo que o vírus agora é endêmico em duas regiões, segundo uma agência das Nações Unidas.

Algumas fazendas de suínos atingidas pelo vírus planejam criar patos, disse Hou. Patos podem ser criados nas grandes piscinas de água usadas na criação de suínos, o que reduz os custos de transição para os donos. O maior volume de chuva este ano acelerou a disseminação da doença e dificultou o enterro de animais abatidos, disse.