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Tradings no "lugar certo" devem lucrar mais com gripe suína

Isis Almeida e Mario Parker

08/07/2019 14h20

(Bloomberg) -- As maiores tradings de commodities agrícolas do mundo há meses repetem o mantra de que vão se beneficiar da gripe suína africana que se espalha pelos mercados. Mas o quanto vão lucrar depende da localização de seus ativos.

O sucesso dependerá do fato de as empresas possuírem unidades que processam soja para farelo usado como ração para suínos em países que podem se beneficiar do aumento das exportações de carne. A China tende a comprar mais proteínas do exterior com a expectativa de que a gripe suína africana elimine um terço de seus plantéis de suínos. A guerra comercial entre Washington e Pequim também deve pesar, o que pode dificultar exportações de carne dos EUA e favorecer a América do Sul e a Europa.

É uma boa notícia para a gigante Bunge, que tem a maioria de seus ativos de processamento de soja na América do Sul. A rival Archer-Daniels-Midland, por enquanto, pode ser prejudicada pela participação da empresa em uma grande esmagadora de soja na China, onde a demanda pela oleaginosa deve cair pela primeira vez em 15 anos devido ao impacto da gripe suína.

"Tudo se resume sobre quem são os parceiros comerciais preferidos, e o Brasil está em melhor posição para fornecer todos os tipos de carne, e depois a UE para a carne de porco", disse Will Sawyer, economista de proteína animal do CoBank ACB, em referência às áreas que poderiam exportar carne para a China. "Por isso, no curto prazo, os ativos de esmagamento de soja na América do Sul são favoráveis", acrescentou. O CoBank conta com uma carteira de US$ 138 bilhões em crédito rural.

A Bunge possui 33% de sua capacidade de esmagamento de sementes oleaginosas na América do Sul, 26% na Europa e 27% na América do Norte. Isso deve ajudar a trading com sede em White Plains, Nova York, a atender à crescente demanda por ração em países como o Brasil, onde as ações da gigante de carnes JBS quase dobraram de preço este ano.

"Gostamos do fato de que hoje apenas 15% de nosso esmagamento esteja na China", disse o CEO da Bunge, Greg Heckman, em conferência da BMO em Nova York, em maio. "Vai haver menos grãos indo para a China. Vai haver mais grãos para esmagar no resto do mundo."

Repórteres da matéria original: Isis Almeida em Londres, ialmeida3@bloomberg.net;Mario Parker em Chicago, mparker22@bloomberg.net