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Trader de algodão da Índia planeja suspender vendas para China

Pratik Parija

30/01/2020 07h22

(Bloomberg) — A Kotak Commodity Services, uma das maiores exportadoras de algodão da Índia, deixará de vender novas cargas para a China diante do receio de que a propagação do coronavírus possa forçar o principal comprador da fibra a fechar portos e bancos.

A empresa de Mumbai pretende procurar novos clientes em países como Bangladesh, Indonésia, Taiwan e Vietnã para compensar uma possível queda das vendas para a China, disse Vinay Kotak, diretor da empresa, em entrevista por telefone na terça-feira.

"Não vamos entrar em pânico agora, mas se o vírus continuar se espalhando e não for controlado nos próximos 10 a 15 dias, isso vai criar um grande problema para a indústria global de algodão", disse. "Se bancos e portos forem afetados, será força maior."

Exportadores da Índia já enviaram entre 600 mil e 700 mil fardos de 170 kg cada para clientes chineses nesta temporada. Desse volume, cerca de 75% está em trânsito, disse Kotak. Exportadores esperavam enviar outros 300 mil fardos para a China até o fim de fevereiro, mas isso pode não ocorrer se o vírus continuar se espalhando, disse Kotak.

Qualquer sinal de interrupção nos embarques de algodão para a China pode pressionar os preços, que vinham se recuperando de mínimas de três anos. Embora o país asiático seja um grande produtor de algodão, é também o maior importador do mundo. A interrupção dos embarques também poderia reduzir os estoques na China, que estão em declínio depois das tarifas retaliatórias impostas sobre o algodão dos EUA, o maior exportador da commodity.

Para os otimistas no setor de algodão da Índia, o vírus da China não é uma grande preocupação. As exportações do país do sul da Ásia são competitivas em termos de preço e encontrar novos clientes não será difícil, disse Atul Ganatra, presidente da Associação de Algodão da Índia.

"Nossa meta de exportação é facilmente alcançável, pois ainda somos os mais baratos do mundo", disse Ganatra. A Índia embarcou 2 milhões de fardos desde o início do ano comercial em outubro, e as vendas podem chegar a 3,5 milhões de fardos até o fim de março, estima.

A decisão da empresa de Mumbai pode impulsionar os preços do algodão nos EUA, disse Shawn Hackett, presidente da Hackett Financial Advisors, em Boynton Beach, Flórida. "Se os chineses não puderem comprar da Índia, comprarão mais dos EUA."

Ainda assim, o volume que poderia ser vendido por produtores norte-americanos não está claro.

"Grandes compras da China podem impulsionar o mercado, mas os futuros já subiram significativamente em antecipação e as compras reais podem se tornar anticlimáticas", disse Jack Scoville, vice-presidente da Price Futures, em Chicago.

A produção de algodão da Índia pode subir para 35,45 milhões de fardos em 2019-20 em relação aos 31,2 milhões de fardos no ano anterior, de acordo com dados da associação divulgados em 6 de janeiro. As exportações devem permanecer estáveis em 4,2 milhões de fardos.

—Com a colaboração de Marvin G. Perez.