Próxima crise de saúde nos EUA pode ser onda de suicídios
(Bloomberg) -- O isolamento, a tristeza e as dificuldades econômicas relacionadas ao Covid-19 provocam uma crise de saúde mental nos Estados Unidos que, segundo pesquisadores, pode piorar a taxa de suicídios, que já está aumentando.
Estudo divulgado na sexta-feira tentou quantificar o número. O documento, que não foi revisado por outros pesquisadores, constatou que, na próxima década, outras 75 mil pessoas poderiam morrer por "desespero" como resultado da crise do coronavírus, um termo que se refere a suicídios e mortes por overdose de drogas. A pesquisa foi realizada pelo Well Being Trust e pesquisadores afiliados à Academia Americana de Médicos de Família.
"Espero que, em 10 anos, as pessoas olhem para trás e digam: 'Uau, eles superestimaram isso'", disse John Westfall, diretor do Centro Robert Graham de Estudos de Políticas em Medicina de Família e Cuidados Primários, que coescreveu o relatório.
Mesmo depois que a economia dos EUA se recuperou da última recessão, suicídios e overdoses reduziram a expectativa de vida dos americanos. Especialistas em saúde mental temem que a incerteza econômica e o isolamento social da pandemia piorem o quadro justo quando o sistema de saúde já está sobrecarregado. A taxa de suicídios nos EUA aumenta há duas décadas e, em 2018, atingiu o nível mais alto desde 1941, de acordo com artigo publicado na JAMA Psychiatry em abril intitulado "Suicide Mortality and Coronavirus Disease 2019 - A Perfect Storm?" (mortalidade por suicídio e doença de coronavírus 2019 - uma tempestade perfeita?). O autor Mark Reger argumentou que o distanciamento social pode dificultar medidas de prevenção ao suicídio e disse que evitar isso é uma "prioridade nacional de saúde pública".
"Há um paradoxo", disse Jeffrey Reynolds, presidente de uma agência de serviços sociais sem fins lucrativos de Long Island, a Family and Children's Association. "O isolamento social nos protege de um vírus contagioso e com risco de morte, mas, ao mesmo tempo, coloca as pessoas em risco por coisas que são os maiores assassinos nos Estados Unidos: suicídio, overdose e doenças relacionadas ao abuso de álcool."
Desde meados de março, o número de pessoas que pediram seguro-desemprego atingiu cerca de 33 milhões. A satisfação dos americanos com a própria vida diminuiu rapidamente durante o mesmo período, segundo pesquisa divulgada sexta-feira pelo Gallup. A porcentagem de adultos americanos que estão muito satisfeitos com a vida atual e otimistas sobre as perspectivas futuras caiu para o nível mais baixo desde novembro de 2008, durante a Grande Recessão, de acordo com análise de mais de 4 mil pesquisas.
"Uma das principais coisas que as pessoas devem concluir desse documento é que o emprego é importante", disse Benjamin Miller, diretor de estratégia do Well Being Trust e psicólogo clínico que ajudou a elaborar o estudo. "É importante para o nosso sustento econômico e para a nossa saúde mental e emocional."
©2020 Bloomberg L.P.
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