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Maioria dos americanos só poderá ser vacinada ao longo de 2021

Anna Edney, Joshua Wingrove e Robert Langreth

11/08/2020 12h14

(Bloomberg) -- Mesmo que as projeções mais otimistas se concretizem e uma vacina contra a Covid-19 seja liberada para uso nos Estados Unidos em novembro, a grande maioria dos americanos não poderá ser vacinada até a primavera do hemisfério norte ou pelo menos meados do ano que vem.

Esse provável cronograma, com base em entrevistas e comentários de especialistas como Anthony Fauci, da Força-Tarefa para o Coronavírus da Casa Branca, significa que empresas, estudantes e famílias terão que esperar.

Em entrevista, Fauci, que também participa do programa de vacinas "Operação Warp Speed" da Casa Branca, disse que a população em geral pode conseguir acesso às vacinas apenas ao longo de 2021.

"Espero que, no segundo semestre de 2021, as empresas tenham entregado as centenas de milhões de doses que prometeram", disse Fauci.

As razões são muitas. Reguladores de saúde dos EUA terão apenas uma pequena porção dos dados típicos de segurança e eficácia. Os produtos que lideram a corrida requerem duas doses, o que limitará o número de pessoas que os suprimentos iniciais poderão ajudar. E autoridades de saúde do governo ainda desenvolvem um plano para quem receberá as vacinas, como serão distribuídas e como sua eficácia e segurança serão rastreadas posteriormente.

"Durante três, a seis, nove meses, haverá mais pessoas querendo uma vacina do que vacinas", disse Stephane Bancel, CEO da Moderna, empresa de biotecnologia que desenvolve uma das vacinas mais avançadas.

Bancel espera que a vacina de sua empresa possa obter autorização de emergência da agência reguladora FDA para "uma população muito restrita sob risco muito alto". As vacinas para a população em geral precisarão da aprovação total da FDA, que regula fármacos e alimentos nos EUA, o que provavelmente levará muito mais tempo, disse em entrevista.

Esses comentários vão contra o cronograma promovido pelo presidente Donald Trump, segundo o qual uma vacina pode estar pronta no dia das eleições presidenciais, em 3 de novembro.

Na segunda-feira, em Washington, Trump repetiu seu cronograma ambicioso: "Tenho a forte convicção de que teremos uma vacina até o fim do ano e ela será aplicada talvez assim que a conseguirmos, porque estamos todos preparados militarmente, estamos usando nossos militares para distribuir a vacina."

Acesso limitado

A Operação Warp Speed busca fazer o que nunca foi feito antes: pesquisar, desenvolver e produzir uma vacina para um novo vírus em questão de meses. É um empreendimento monumental e arriscado que pode resultar em bilhões de dólares desperdiçados, mas que também pode reduzir anos de cronogramas de desenvolvimento típicos. Mas, mesmo se for bem-sucedida, a operação se moverá mais rápido para algumas pessoas do que para outras. Duas outras autoridades de peso do governo dos EUA descreveram um fluxo crescente de acesso ao longo de meses, não a disponibilidade repentina e generalizada de uma vacina.

Junto com os US$ 8 bilhões em fundos dos EUA concedidos para o desenvolvimento e fabricação de vacinas por meio da Warp Speed, os departamentos de Saúde e Defesa fecharam contratos totalizando quase US$ 500 milhões para aumentar a fabricação nacional de frascos e seringas pré-carregadas para vacinas Covid-19. A consultoria Deloitte também tem um contrato de US$ 15 milhões para rastrear a distribuição e administração de vacinas. A empresa não respondeu a um pedido de comentário.

Os testes de vacinas normalmente requerem dezenas de milhares de pacientes e meses de acompanhamento para mostrar que são seguras o suficiente para serem administradas a pessoas saudáveis. A falta de dados de longo prazo pode limitar o acesso até que autoridades de saúde possam avaliar melhor os riscos.

Planos antecipados

Apesar da demanda por uma vacina e dos desafios logísticos para administrá-la em centenas de milhões de americanos, o governo Trump ainda está nas fases iniciais de planejamento de como será esse imenso esforço.

O Departamento de Defesa e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças devem ter peso relevante, e o papel do setor privado é menos claro.

"Pode ser que não passe pela CVS", disse Fauci à Bloomberg, referindo-se à rede de farmácias CVS Health Corp. "O Departamento de Defesa, juntamente com o CDC, está se envolvendo muito em como levar a cadeia de suprimentos às pessoas. Isso ainda não foi resolvido."

©2020 Bloomberg L.P.