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BIS: "Brexit" vai prolongar período de juros muito baixos

18/09/2016 15h34

Arantxa Iñiguez.

Frankfurt (Alemanha), 18 set (EFE).- O voto do Reino Unido a favor da saída da União Europeia (UE) - o chamado "Brexit" - vai prolongar o período em que as taxas de juros estarão em níveis muito baixos, o que está afetando os títulos da dívida pública de alguns países.

Esta a avaliação está no último relatório trimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), divulgado neste domingo, no qual é analisada a situação dos mercados financeiros.

"O voto do 'Brexit' desencadeou uma ampla valorização do ritmo futuro da política monetária globalmente", diz o BIS, cuja sede fica na Basileia, na Suíça.

Com um crescimento frágil na maior parte das economias avançadas e uma inflação baixa, a incerteza adicional criada pelo "Brexit" fez com que os principais bancos centrais relaxassem mais suas políticas monetárias, o que deve levar as taxas de juros a ficarem muito baixas durante mais tempo.

A percepção de uma expansão maior da política monetária também pressionou para baixo as rentabilidades da renda fixa, e a quantidade de títulos da dívida pública que tiveram rentabilidades negativas superou os US$ 10 trilhões poucos dias depois do "Brexit", segundo o BIS.

Além disso, as taxas de juros negativas também chegaram à dívida corporativa com grau de investimento nas economias avançadas.

No final de agosto, até 30% da dívida corporativa de alta qualidade da zona do euro era negociada com rentabilidade negativa.

Em julho, a Alemanha colocou bônus com prazo de dez anos no mercado primário com juro negativo (-0,05%) pela primeira vez na história.

As rentabilidades dos bônus públicos caíram para níveis historicamente baixos, inclusive negativos, sem precedentes, como são os casos de Japão e Alemanha.

"Neste contexto, alguns observadores se perguntam se os principais mercados de renda fixa podem estar supervalorizados", diz o BIS.

Uma forma de medir esta supervalorização é comparar a rentabilidade dos bônus públicos e o crescimento nominal do Produto Interno Bruto (PIB).

Durante os últimos 65 anos, as rentabilidades dos bônus a dez anos seguiram muito bem as tendências do crescimento nominal do PIB em EUA, Alemanha, Japão e Reino Unido.

Mas há muito tempo a rentabilidade nominal dos bônus ficou muito abaixo do crescimento nominal do PIB nestes quatro países.

No entanto, em outros mercados, como os de ações, ocorreu um novo entusiasmo.

O chefe do departamento monetário e econômico do BIS, Claudio Borio, disse ao apresentar o relatório que "a recente recuperação despertou reações diversas: mais impulso que recuo, mais frustração que alegria".

"Isto nos leva a nos perguntar se os preços do mercado realmente refletem os riscos futuros. Nos últimos dias, parece que se intensificaram as dúvidas sobre as valorizações, que só o tempo poderá resolver", comentou Borio.

Em geral, os mercados se recuperaram com rapidez do sobressalto do resultado do referendo a favor da saída do Reino Unido da UE.

O BIS destaca que "os bancos centrais tiveram um efeito tranquilizador e relaxaram ainda mais suas políticas nos últimos meses".

Nos dois dias de negociação depois do voto do "Brexit" os principais índices das bolsas de valores das economias avançadas caíram mais de 5%.

A libra esterlina desabou 10%, e o dólar subiu frente a quase todas as divisas, exceto em relação ao iene, segundo dados do BIS.

Mas apesar da forte reação reação inicial, as condições do mercado seguiram sendo ordenadas, o volume de negociação foi alto e as valorizações se recuperaram. Contribuiu para isso a resposta dos bancos centrais anunciando sua disposição de proporcionar liquidez e garantir o bom funcionamento dos mercados.

Em meados de julho, a maior parte dos ativos tinha superado os preços de fechamento de 23 de junho, segundo o BIS. O FTSE 100, índice seletivo da Bolsa de Londres, que inclui as empresas britânicas com a maior exposição à demanda externa, fechou 5% acima do nível anterior ao referendo,, estimulado pela persistente desvalorização da libra.

O Banco da Inglaterra cortou sua taxa de referência em 4 de agosto para 0,25%, ampliou as compras de dívida pública e estabeleceu um novo programa de compra de dívida corporativa.

O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, adiou a normalização de sua política monetária, o Banco Central Europeu (BCE) reafirmou que as taxas de juros seguirão no nível atual ou mais baixos durante um período de tempo prolongado, e o Banco do Japão ampliou em 29 de julho seu programa de expansão quantitativa e qualitativa.