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Com baixíssimos salários, aposentados ucranianos vivem drama para sobreviver

31/10/2017 10h01

Khrystyna Kinson.

Kiev, 31 out (EFE).- Ser aposentado na Ucrânia significa enfrentar todos os dias o desafio de sobreviver com até US$ 54 por mês (cerca de R$ 175), quantia que beira a linha de pobreza e não se adequa ao custo de vida no país.

"Desde que me aposentei, há 20 anos, o valor que eu recebo não passou de US$ 100 (R$ 327). Isso não é suficiente para comprar comida, cobrir as despesas médicas e de casa, o necessário para viver com dignidade", explicou à Agência Efe Zinaida Dimitrivna.

Após a reforma do sistema previdenciário da Ucrânia, que entrou em vigor em outubro, o valor mínimo por pessoa aumentou 11%, mas ainda está longe de cobrir os gastos e ser adequado para descansar sem preocupações. Para Zinaida, que trabalhou por 45 anos, os baixos salários e o sistema previdenciário atual não oferecem incentivos para pagar impostos, o que contribui para engrossar a economia informal na Ucrânia, que representa 34% do Produto Interno Bruto (PIB).

Na agitada capital ucraniana é comum ver mercadinhos improvisados nas ruas e vários vendedores ambulantes em passagens subterrâneas, a maioria idosos, que encontram nesse tipo de comércio a única forma viável de aumentar a renda e viver com alguma garantia. Paradoxalmente, e apesar da maioria dos aposentados receber em média um montante inferior a US$ 90 por mês (R$ 295), a Ucrânia gasta muito mais em previdência do que os seus vizinhos europeus, já que destina ao pagamento desse benefício 12% do PIB.

A última reforma da previdência, que aumentou também a idade mínima necessária para se aposentar, aconteceu, entre outros fatores, por pressão do Fundo Monetário Internacional ao governo para que reduzir os gastos públicos como condição indispensável para a implantação do programa de assistência financeira. O número de aposentados na Ucrânia estava praticamente igual ao número de trabalhadores ativos e a alta evasão de impostos, somada a idade para dar entrada na aposentadoria - 60 anos para homens e 58 para mulheres -, também contribuem para que o sistema fique enfraquecido e gere graves problemas sociais.

De acordo com a professora aposentada Tatyana Borisovna, por causa da inflação, os ucranianos pagam tanto pela cesta básica quanto muitos outros europeus, apesar de o salário ser mais baixo".

"Vivo numa constante incerteza, preocupada com o dia seguinte e isto limita muito a minha vida", disse ela, que recebe US$ 63 por mês (R$ 206).

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 60% da população ucraniana vive abaixo da linha de pobreza, situação que se tem agravado devido ao conflito no leste do país, que marcou a economia e provocou mais de 1,7 milhão de deslocados internos.

Um dos afetados por esta guerra é Ivan, que morava em Donetsk. Ele contou que se viu obrigado a fugir e ir para Kiev depois que sua casa foi totalmente destruída nos combates entre as milícias pró-Rússia e o Exército ucraniano.

"Vim a Kiev porque não tenho outro lugar para ir, mas aqui o imóvel é caro. Eu e minha mulher alugamos um apartamento de um quarto com outras três pessoas porque a aposentadoria não dá para mais do que isso", afirmou.