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Aumento de preços e desvalorização da moeda sufocam sudaneses

29/01/2018 06h09

Al Nur al Zaki.

Cartum, 29 jan (EFE).- O aumento do preço de produtos básicos, entre eles o pão, está sufocando os sudaneses, alguns dos quais protestaram nas ruas e nas universidades desde o começo do ano contra as políticas econômicas do Governo, que também desvalorizou a moeda local em relação ao dólar.

A decisão do Executivo de mudar a taxa de câmbio de 6,9 libras sudanesas por dólar para 18 libras está por trás da grande alta dos preços e fez também com que o dólar disparasse no mercado negro, onde chegou a ser cotado a 34 libras.

Um funcionário sudanês, Ibrahim Sadeq, assegurou à Agência Efe que seu salário "está sendo carcomido" pela desvalorização da libra sudanesa, ao mesmo tempo que o aluguel da sua casa aumentou repentinamente.

"Onde posso conseguir o dinheiro para manter minha família durante um mês?", se perguntou desconsolado, quase às lágrimas.

"O meu salário não é suficiente para mais de dez dias, se nenhum (dos membros da família) precisar de tratamento médico", acrescentou Sadeq.

A crise econômica se agravou desde que o Parlamento sudanês aprovou no final de dezembro de 2017 a desvalorização da libra, além do aumento da tarifa da eletricidade para a agricultura e a indústria em 1.000%.

Também se decidiu retirar a subvenção estatal ao pão, o que provocou que seu preço se duplicasse.

Por isso, agora muitos cidadãos têm que renunciar produtos básicos e diminuir seu consumo de açúcar, café e chá, entre outros, explicou à Efe, Ozman Musa, empregado de uma empresa privada.

Musa indicou que um "ratl" (que equivale aproximadamente a meio quilograma) de café foi duplicado de 40 para 80 libras e o de chá subiu de 60 para 85 libras na mesma semana.

"O meu salário cobre apenas uma pequena parte das necessidades da minha família", que é composta por seis pessoas e necessitaria de pelo menos 7.000 libras por mês, sem incluir o aluguel da moradia, explicou o homem.

A penúria econômica fez com que centenas de sudaneses tenham protestado nas últimas semanas na capital, Cartum, e em outros pontos do país, e em todos os casos foram reprimidos pelas forças de segurança.

Um estudante morreu durante as manifestações em El Yanina, capital do estado de Darfur Oeste, e centenas de pessoas foram detidas, incluindo líderes de partidos políticos opositores, como o dirigente do partido comunista, Mohamed Mojtar al Jatib.

O Governo sudanês buscou fórmulas para aliviar as consequências das reformas, como vender produtos diretamente ao público, e obrigou os fabricantes a que etiquetem suas mercadorias com um preço fixo.

Também está estudando aumentar os salários dos setores público e privado, sendo agora mesmo o salário médio de um funcionário de apenas 1.500 libras (US$ 213) e de 2.000 libras o de um trabalhador não estatal.

Segundo um estudo governamental recente, uma família de cinco pessoas precisa de 5.000 libras (US$ 713) por mês para viver no Sudão.

O economista Hasan al Sediq explicou à Efe que a venda de todos os produtos diminuiu, devido ao elevado preço dos mesmos, como ocorreu com o pão e outros alimentos, o que está repercutindo nos comerciantes.

Segundo o especialista, é necessário tomar medidas para conter a inflação, além de diminuir a despesa pública e obter depósitos de moedas para as reservas estatais, com o fim de evitar uma maior desvalorização da libra.

"O preço do dólar pode aumentar no mercado negro devido ao crescimento da demanda e à ausência de reservas suficientes no Banco Central do Sudão", alertou Sediq.

O economista previu que o dólar poderia chegar a ser cotado a 50 libras, diante da elevada demanda e da escassez da moeda, que fez com que alguns comerciantes tivessem que parar as importações.

Por sua vez, as autoridades intensificaram o controle e as campanhas contra o mercado negro de moedas, que favorece o aumento do preço do dólar frente à libra, em um país que depende consideravelmente das importações.

Por enquanto e com a negativa do Governo de voltar atrás, foram convocadas novas manifestações para o dia 31 de janeiro.