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Guantánamo aposta em café e cacau para deixar fama de prisão dos EUA de lado

24/06/2018 10h20

Lorena Cantó.

Guantánamo (Cuba), 24 jun (EFE).- Guantánamo quer afastar o fato de ser lembrada apenas como local que abriga uma base militar usada como prisão pelos Estados Unidos e aposta no desenvolvimento sustentável de café e coco para mudar sua própria história.

Enquanto os rumores sobre a transferência dos presos vão e voltam, os 500 mil habitantes de Guantánamo garantem que a região é muito mais do que a base militar americana.

Há fertilidade para produção agrícola e uma juventude apta a ajudar Cuba a se desenvolver, já que a baía tem a maior taxa de natalidade do país, que enfrenta sérios problemas de envelhecimento.

Nos últimos dois anos, Guantánamo também enfrentou outro problema: o furacão Matthew devastou a região em 2016, e o Irma passou perto da região em 2017, atingindo a costa norte do país.

Agora, Guantánamo tem como prioridade se recuperar dos furacões, aprender com os erros do passado e, com investimentos industriais, buscar o autoabastecimento e escorar a economia com a exportação de café, cacau e coco.

O impacto dos furacões sobre as colheitas dos dois últimos produtos foi brutal, já que os ciclos de produção de ambos são longos - três anos para o cacau e cinco para o coco.

"O Matthew foi como uma bomba atômica e arrasou milhares de hectares de plantações", explicou à Agência Efe Odel Cobas, diretor da usina processadora de coco e frutas de Baracoa, uma vila histórica no litoral nordeste de Guantánamo.

"Ironicamente, isso contribuiu para aumentar os níveis de eficiência da história porque nos obrigou a não deixar as fábricas paradas e os agricultores sem renda, enquanto os coqueiros e as plantas de cacau se recuperavam", completou Cobas.

Na fábrica de usina de processamento de coco - do qual se aproveitam polpa, óleo, água, fibras e casca - foi instalada com o apoio de recursos do governo da Espanha.

Onde antes só se processava coco e cacau, agora é possível utilizar manga, goiaba, banana, abacaxi e mamão, frutas que se recuperam mais rápido após a passagem de furacões.

A mudança faz com que os produtores optem por uma variação de cultivos para abastecer a indústria, mantendo a renda durante crises como as ocorridas no Matthews e no Irma.

Com os coqueiros destruídos, a fábrica vive hoje de transformar manga em polpa para sucos e outros produtos destinados ao mercado nacional e externo.

Perto dali, a usina processadora de cacau aguarda a chegada de novas máquinas para substituir a tecnologia obsoleta e aumentar a produção, hoje quase artesanal, de um dos segredos melhor guardados do leste de Cuba: o chocolate.

"O equipamento é da época de Che, de fabricação alemã", explicou à Efe um operário que trabalha no local.

Ernesto Che Guevara, nomeado ministro de Indústria por Fidel Castro pouco depois do triunfo da Revolução Cubana, em 1959, quis modernizar a ilha na busca de soberania tecnológica e alimentícia.

Desde então, muitos dos equipamentos não foram renovados e hoje, enferrujados, atrapalham um setor com bastante potencial.

Com as novas máquinas, a fábrica, que compra sementes de cerca de 3 mil produtores, será capaz de processar 1 tonelada de cacau por hora.

Outra joia de Guantánamo é o café: a região produz metade das exportações cubanas para outros países, como Japão, Nova Zelândia e União Europeia.

O setor, que quase morreu devido aos baixos preços pagos aos produtores, reviveu em 2015, quando o governo cubano aumentou a compra. Isso fez os produtores aumentarem a área dedicada à cultura nas montanhas do leste da ilha.

Cerca de 1.900 camponeses são fornecedores da empresa Alta Sierra, uma das principais fábricas do país, com capacidade para processar 18 toneladas por dia, explicou o diretor da companhia, Osmel de la Cruz.

O furacão Matthews destruiu 98% das casas da região e 95% dos prédios governamentais. O dinheiro da produção de café está ajudando a reconstrução da área, que em cerca de um ano e meio já praticamente se restabeleceu.