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Tibete tenta sobreviver à urbanização e ao desenvolvimentismo chinês

12/10/2018 06h02

Javier García.

Lhasa, 12 out (EFE).- O Tibete, teto do mundo e um dos lugares mais inexplorados do planeta até poucas décadas atrás, é o palco de um intenso programa de desenvolvimento por parte das autoridades da China, que pretendem transformar a região em um polo de atração turística.

Linhas de ferrovia, estradas e blocos de casas se expandem a ritmo frenético por cidades tibetanas longínquas, e especialmente na capital Lhasa, onde santuários históricos como o Palácio de Potala ou o Templo de Jokhang convivem com modernos veículos 4x4, antenas de telefonia celular e blocos de edifícios de inspiração socialista.

Justamente em frente ao mítico Potala, passa uma grande avenida cheia de carros enquanto, a poucos metros, uma tela gigante exibe as borbulhas de uma bebida refrescante.

Aparentemente alheios aos anúncios luminosos e ao trânsito, dezenas de turistas chineses, em cima de uma pequena elevação, tiram "selfies" em frente ao lendário palácio que abrigava os governos do Tibete e a residência de sua maior figura civil e espiritual, o Dalai Lama.

O impulso do turismo é uma das prioridades de Pequim para desenvolver a chamada Região Autônoma do Tibete (TAR, na sigla em inglês), por isso que realizou pela quarta vez este ano em Lhasa a Expo de Turismo e Cultura do Tibete e da China, para a qual convidou um pequeno grupo de meios de comunicação estrangeiros, entre eles a Agência Efe.

"O turismo tem um papel crítico no desenvolvimento do Tibete", afirmou na inauguração desse fórum, o presidente do governo da região autônoma, Qi Zahla, e anunciou que a região espera receber este ano 30 milhões de turistas, a imensa maioria deles chineses.

No ano passado já chegaram 25 milhões de turistas ao planalto tibetano - onde vivem apenas 3 milhões de habitantes - dos que apenas 334 mil foram estrangeiros, que têm que conseguir várias permissões para se ter acesso à região e só podem fazer em viagens organizadas.

Os jornalistas internacionais e os diplomatas não podem entrar a não ser que viajem convidados pelo governo chinês, restrições que, segundo os dirigentes da TAR, serão retiradas gradualmente.

"O Tibete é um dos melhores exemplos da nova China", disse Zahla na inauguração da Expo, na qual também outros membros do Partido Comunista elogiaram o papel que o turismo teve na melhoria das condições de vida dos tibetanos.

O certo é que o aumento do poder aquisitivo da população chinesa após o forte crescimento econômico dos últimos anos multiplicou as ondas de turistas nacionais em todas as partes do país e, portanto, na incrível região do Himalaia anexada pela China em 1951.

Segundo Pequim, o turismo e o desenvolvimento promovido pelo Governo central fizeram com que o Produto Interno Bruto (PIB) da região se multiplicasse por mais de mil desde então, e que só nos últimos 16 anos a esperança de vida passou de 38 para 68 anos.

Desde 2002 foram construídos 9.000 quilômetros de estradas, foi inaugurada a linha de trem Qinghai-Lhasa, que conectou pela primeira vez o Tibete por ferrovia - e construídos uma infinidade de prédios públicos.

Nos arredores da capital tibetana, muitos destes blocos de casas se encontram, no entanto, ainda vazios, segundo constatou a Efe.

As autoridades chinesas asseguram que essas unidades são subsidiadas e destinadas a oferecer melhores condições de vida aos camponeses pobres tibetanos.

Os partidários do chamado Governo tibetano no exílio, liderado pelo 14º Dalai Lama, acreditam que alojarão novos imigrantes do interior da China, com os quais Pequim procura aumentar a presença da etnia han - majoritária do país - para acabar fazendo com que prevaleça sobre a tibetana.

Seja como for, a presença chinesa no Tibete já é arrasadora. Desde as bandeiras vermelhas e as grandes imagens de líderes chineses em ruas e praças até a preponderância do chinês mandarim sobre a língua tibetana no comércio e nos negócios.

Um grande cartaz de Xi Jinping, Mao Tse-Tung e outros dirigentes domina a grande esplanada em frente ao Potala, coroado por um insígnia vermelha.

Perto dali, um cartaz em um açougue anuncia carne de iaque (bovino natural da região) nos dois idiomas, embora, como em todas as partes, com o chinês em caracteres maiores.