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Jornada de 8 horas completa um século na França em meio a tensões laborais

Luis Miguel Pascual.

23/04/2019 16h40

Paris, 23 abr (EFE).- Em 23 de abril de 1919, os parlamentares franceses implementaram a jornada de trabalho diária de 8 horas em meio a um clima de tensão proletária. Um século depois, em plena revolta dos "coletes amarelos", o presidente da França, Emmanuel Macron, está prestes a anunciar um aumento desse tempo.

O teto das 8 horas por dia de serviço sofreu diversas evoluções na França, e em 100 anos o tempo anual passado no ambiente de trabalho diminuiu em um quarto. A adição da quinta semana de férias ou a imposição paulatina, no começo do século 21, das 35 horas semanais fizeram com que, por ano, os franceses trabalhem, em média, pouco mais de 1.500 horas, sendo que em meados do século passado esse total era de 1.900.

Além disso, os franceses de hoje entram mais tarde no mercado de trabalho que os de outras gerações, a idade de aposentadoria é das menores da Europa, existem muitos feriados e os contratos com jornadas reduzidas envolvem menos horas do que outros países desenvolvidos.

É nesse contexto que Macron acredita que os franceses devem trabalhar mais. O presidente, que teve que atrasar o anúncio de suas medidas na segunda-feira passada por causa do incêndio na Catedral de Notre-Dame, as revelará na próxima quinta-feira em entrevista coletiva. Pela frente, existem três possibilidades: eliminar um feriado, atrasar a idade de aposentadoria ou acabar com as 35 horas semanais.

A última opção é a menos provável, porque Macron se mostrou contrário. A de aumentar o tempo no trabalho seria também muito impopular. Tudo indica que Macron preferirá cortar um feriado, o que geraria menos receitas para financiar as medidas sociais que ele anunciou para acalmar os protestos dos "coletes amarelos".

Em 2019, a França tem 11 feriados nacionais, contra oito do Reino Unido, nove da Alemanha, 14 da Espanha e 16 do Japão.

Macron pode se ver no mesmo cenário que seus antecessores de um século antes, que, diante da pressão operária, optaram pela jornada de 8 horas. A França acabava de sair da Primeira Guerra Mundial, e o movimento operário, muito forte antes do conflito, recuperou o brio que tinha perdido.

A reivindicação das 8 horas de trabalho por dia era o passo seguinte, após a conquista de 12 horas de trabalho em 1848, 11h em 1900 e a obrigatoriedade de um descanso semanal em 1906.

O sindicato CGT que, fundado em 1895, organizou uma greve geral para 1º de maio de 1919 com essa reivindicação. À frente do governo, Georges Clemenceau decide impedir esta medida para evitar a ascensão do movimento operário, cada vez mais próximo às bases bolcheviques. No seu discurso, defendeu a regra dos três períodos: 8 horas de trabalho, 8 de lazer e 8 de descanso.

A França também não queria ficar de fora, já que países como Alemanha, Polônia, Áustria e Tchecoslováquia, que em pleno processo de nascimento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), já tinham adotado essa medida para fazer frente às teses que emanavam da Rússia. Até aquele momento, a lei estabelecia a jornada semanal de trabalho em 72 horas para empresas que só empregavam homens e 60 para as que tivessem mulheres e crianças.

Como domingo era o único dia livre, foi instaurada assim a jornada semanal de 48 horas, que vigorou até 1936 na França, quando foi incluído um segundo dia de descanso e, portanto, o formato de 40 horas semanais. EFE