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Falência da Avianca Brasil vira desafio para o setor aéreo

08/07/2019 17h04

Nayara Batschke.

São Paulo, 8 jul (EFE).- Com a Avianca Brasil em processo de falência desde dezembro, o setor de aviação do país passou a contar com apenas três grandes companhias aéreas nacionais, uma falta de concorrência que tem provocado efeitos sobre os preços das passagens.

Antes chamada de OceanAir, a Avianca Brasil é uma empresa independente da matriz colombiana que entrou em regime de recuperação judicial e acumula dívidas de mais de R$ 1 bilhão. O processo gerou uma série de ações contra a companhia e a levou a realizar um leilão de ativos, previsto para ocorrer na próxima quarta-feira.

"Com a saída de uma concorrente, neste caso a Avianca, os preços das passagens sobem e as três principais companhias aéreas restantes podem impor as regras que quiserem", disse à Agência Efe o professor do Centro de Estudos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas, Ulysses dos Reis.

Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que, nos cinco primeiros meses de 2019, Gol, Latam e Azul foram responsáveis por mais de 90% dos embarques em voos domésticos no país, enquanto a Avianca respondeu por 8% do total. As demais companhias aéreas de menor porte, somadas, ficam com os 2% restantes.

Além disso, o preço médio das passagens subiu 14% desde que a Avianca foi obrigada a cancelar milhares de voos em abril, de acordo com uma pesquisa realizada por um portal de venda na internet.

Reis ressaltou que o aumento dos preços é só a ponta do iceberg. Para ele, a falta de concorrência prejudica o livre mercado e tem um efeito cascata sobre toda a economia do país, desde a locomoção de trabalhadores qualificados e produtos a áreas remotas até a falta de investimento em infraestrutura.

A saída da Avianca Brasil do setor ocorre, além disso, em um momento no qual a ponte área Rio-São Paulo, a quarta mais movimentada do mundo, completa 60 anos e vive uma concentração inédita no mercado: só Gol e Latam podem atualmente operar na rota.

"O Brasil é um país de dimensões continentais, que tem a urgência de se integrar. O conhecimento flui dos polos para periferia, e a falta de oferta na mobilidade faz com que esse desenvolvimento seja estrangulado", afirmou Reis.

Apesar da recente permissão das autoridades brasileiras para a entrada de companhias aéreas estrangeiras no mercado local, como a Air Europa, Reis acredita que pouca coisa irá mudar se não houver mais investimentos e a quebra dos monopólios existentes.

O superintendente de Acompanhamento de Serviços Aéreos da Anac, Ricardo Bisinotto Catanant, explicou à Efe que a saída abrupta da Avianca Brasil provocou um repentina diminuição da oferta e, consequentemente, teve impacto nos preços das passagens.

No entanto, Catanant avaliou que as políticas que o governo de Jair Bolsonaro tenta implementar poderão fomentar a chegada de novas empresas no Brasil e, desta forma, ampliar a concorrência e regular o mercado.

"A AirEuropa foi a primeira que solicitou entrada no país e há outros grupos interessados. Isso permite uma maior concorrência", disse o superintendente.

Mas a alta nos preços das passagens fez com que muitos brasileiros migrassem para outros tipos de transporte, como o rodoviário.

Segundo a conselheira da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), Leticia Sampaio Kitagawa, o número de passageiros que trocou o avião pelo ônibus cresceu 12% entre janeiro e junho deste ano. Em algumas rotas específicas, esse crescimento chega até 16%.

No entanto, o setor de aviação continua dominando o mercado. Em 2018, 93,6 milhões de passageiros ocuparam os assentos das aeronaves em viagens domésticas contra 50 milhões que optaram pelo ônibus no mesmo período. EFE