Iguaçu, 1.300 quilômetros de paraíso selvagem escondido entre 6 hidrelétricas
Ana Paula Chain.
Capanema (Paraná), 22 jul (EFE).- Desde que nasce na cidade de Curitiba, as águas do rio Iguaçu percorrem cerca de 1.300 quilômetros até dar origem a uma das sete novas maravilhas do mundo, um trajeto que abriga seis hidrelétricas e que esconde vida selvagem que sobrevive à intervenção humana.
Embora 170 quilômetros deste rio façam parte do preservado Parque Nacional Iguaçu - água grande em tupi-guarani -, a interferência humana no seu curso é alta.
Apesar de contar com seis hidrelétricas, a última delas inaugurada em maio deste ano pelo presidente da Iberdrola, Ignacio Galán, é o uso desordenado dos seus recursos o que mais afeta a qualidade da água, que sofre sobretudo com os efeitos das atividades agropecuárias e da mineração.
Além disso, mais de 80 espécies de mamíferos, 90 de peixes e 300 de pássaros, habitam a região, que conta com um grande potencial para se transformar em um destino popular para o ecoturismo - tanto para o Brasil como para a Argentina -, além das Cataratas do Iguaçu.
As famosas cataratas recebem cerca de dois milhões de visitantes por ano, apenas no lado brasileiro.
Passeios de barco e caminhadas são algumas das opções oferecidas aos turistas que desejam subir o rio mais longo do estado do Paraná para descobrir o que escondem suas águas, ainda calmas e silenciosas, que não dão uma só pista de toda a força e exuberância que ganharão quando encontrarem quedas de até 82 metros de altura.
Ao final do seu curso, estas águas atingem uma velocidade de quase sete metros por segundo, seis vezes superiores ao número médio de um rio comum, com força suficiente para arrastar uma pedra de dez toneladas.
A exagerada beleza das cascatas gigantes que se encontram na fronteira entre Brasil e Argentina (e bem próxima com a do Paraguai) impressiona, mas a simplicidade e a tranquilidade do rio que lhes dá origem também.
Por isso, a empresa Macuco Safari, que oferece diferentes atividades nas Cataratas há 30 anos, decidiu em fevereiro deste ano começar suas atividades de forma permanente na cidade de Capanema, a cerca de 90 quilômetros (pelo rio) de Foz do Iguaçu.
"Em Capanema temos as trilhas seguidas de cascatas, como a Silva Jardim, que é fantástica, com uma cascata de 50 metros de extensão e oito de altura. São quatro quilômetros de trilhas", explicou à Efe o gerente comercial da empresa, Cleverson Teixeira.
A empresa, segundo Teixeira, está tramitando uma autorização para operar também no lado argentino.
Sobre os atrativos de Capanema, que incluem um total de seis trilhas e passeios de barco, destaque para a ilha do Sol, que fica no "coração" do parque nacional, que conta com uma superfície total de cerca de 1.700 quilômetros quadrados repletos de animais como cutias, capivaras e até onças.
"Capanema tem um grande potencial porque é a 'capital do orgânico'. Há muitas coisas para fazer", acrescentou Teixeira.
O especialista disse que nos primeiros três meses de funcionamento receberam cerca de 2.000 visitantes interessados no ecoturismo, que tem por trás também uma filosofia de conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente, fundamental para a fase de recuperação pela qual o rio passa.
"A população está se conscientizando, não estão jogando lixo nem resíduos. Fazemos recentemente uma ação ecológica que foi muito positiva", contou Teixeira.
De fato, desde 2016 está sendo realizado no estado um trabalho de revitalização previsto por uma lei promulgada pelo ex-governador Beto Richa.
Com relação à grande quantidade de hidrelétricas no curso do rio Iguaçu, Teixeira disse que estas não prejudicam a vida selvagem local e que são um atrativo turístico a mais para a região.
Uma delas é Baixo Iguaçu, pertencente à Neoenergia - subsidiária da Iberdrola no Brasil -, empresa que realiza um importante trabalho de preservação e cuja inauguração atraiu "muitos visitantes" para a região.
Nesse sentido, o presidente do Consórcio Baixo Iguaçu, José de Anchieta, afirmou à Efe que pelo estilo de construção o reservatório da sua hidrelétrica "não inunda" uma grande área e ressaltou a preocupação com o meio ambiente e o desenvolvimento turístico.
"Nós somos a última da cascata, então o que temos que verter e que vai chegar até as cataratas são pelo menos 350 ou 400 metros cúbicos. Com isso, inclusive nos períodos de seca se garante que a beleza cênica (das Cataratas) não será afetada", explicou Anchieta.
"Assim, além de gerar energia com sustentabilidade, também geramos um ganho para o recurso de beleza cênica e turismo na região", continuou.
Segundo Anchieta, as outras hidrelétricas também fazem suas contribuições, mas Baixo Iguaçu foi a única a criar um corredor da biodiversidade.
"Esse corredor foi pensado com um olhar social com mais critério e um trabalho de preservação permanente na região para manter a fauna e a flora sempre em bom estado e fazer uma interconexão com o parque nacional", ressaltou Anchieta.
Concretamente, a implantação do corredor verde liga a unidade de preservação com fragmentos isolados de vegetação, criando uma zona de passagem para os animais e promovendo o retorno de espécies que estavam se tornando raras.
Assim, em meio aos danos causados pela intervenção humana e os benefícios de ações com o objetivo de reparar estes problemas, o rio Iguaçu mantém seu curso cheio de vida selvagem e surpresas, à espera de quem queira desfrutá-lo de maneira responsável. EFE
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