França vive greve geral contra reforma da Previdência de Macron
Enrique Rubio.
Paris, 5 dez (EFE).- Uma greve com enorme adesão em setores fundamentais como os de transportes e educação deu início nesta quinta-feira a uma queda de braço com a mais arriscada reforma do presidente da França, Emmanuel Macron, desde que chegou ao poder: a Previdência.
Ainda não se sabe exatamente em que consistirá o plano do governo para modificar o sistema da aposentadoria, mas os sindicatos, em poucas horas, começaram a se mobilizar desde o primeiro dia da era Macron.
O presidente nunca escondeu que um dos objetivos do mandato de cinco anos seria a reforma das pensões para dar fim aos 42 regimes especiais atualmente em vigor e juntá-los em um, com pontos que concedam os mesmos direitos a todos.
Macron também não poderia fugir do fato de que outros governos já tinham tropeçado nessa tentativa, nem que deveria enfrentar a resistência de setores capazes de dificultar a atividade no país.
Foi exatamente o que aconteceu. O desemprego nos transportes ferroviário e urbano dificultou a mobilidade e forçou muitos trabalhadores a permanecerem em casa.
A Sociedade Nacional de Ferroviários recorda que 55,6% dos trabalhadores apoiaram a greve, porcentagem ainda maior em cargos essenciais para o funcionamento dos trens, como maquinistas (85,7%) e operadores de revisão (73,3 %).
O tráfego aéreo também foi gravemente afetado, com 20% a 30% dos voos cancelados, segundo o Governo.
Na educação, quase metade dos professores se juntou ao protesto, forçando o fechamento da maioria das escolas na França.
GREVE SEM FINAL À VISTA.
O verdadeiro problema para Macron é que esta greve é indefinida, e os piores presságios indicam que pode durar semanas, talvez até o Natal.
Em 1995, uma mobilização de três semanas contra uma reforma semelhante promovida pelo então primeiro-ministro Alain Juppé acabou fracassando o projeto.
Macron se reuniu nesta quinta-feira com o Conselho de Ministros e, segundo a imprensa francesa, pediu ao governo para que "não subestime" as mobilizações de hoje, mas que, ao mesmo tempo, se mantenha firme na necessidade de reformar o sistema.
A rejeição ao plano não se concretizou apenas na greve, mas também nas manifestações que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas nas cidades francesas.
Na opinião do aposentado Yves Saintemarie, que viajou de uma cidade perto da capital para participar do protesto em Paris, "pode ser necessário reformar as pensões, mas preservando os direitos adquiridos, pois este sistema é muito mais justo do que o que eles propõem".
"Não se trata apenas de pensões, mas de pessoas no geral que vivem na pobreza e na precariedade. Eu sou um 'colete amarelo' e um sindicalista, e é necessário que nossas lutas se unam, é preciso derrubar esse governo que nos mata", disse à Agência Efe.
Outra manifestante, a monitora de circo Catherine Luzet, de 60 anos, confessou que não esperava uma reação de Macron depois do dia de hoje, mas "uma consciência de todas as pessoas, para que escutem as palavras de seus irmãos e irmãs".
DISTÚRBIOS DISPERSOS.
Um dos temores do dia era o aparecimento de radicais, que ultimamente têm marcado presença em todos os protestos dos "coletes amarelos". Embora também estivessem presentes hoje, seus efeitos se limitaram a manifestações de rua que não impediram um desenvolvimento pacífico das manifestações.
Até as 17h (horário local; 13h em Brasília), 87 pessoas tinham sido detidas pelas autoridades locais.
Os sindicatos manterão a postura na sexta-feira, marcando um novo dia de complicações para os transportes, o que provavelmente se repetirá durante o fim de semana. EFE
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