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'Farmácia mundial', Índia retoma exportação de medicamentos durante pandemia

4.fev.2020 - Funcionários de hospital em Bangalore, na Índia, usam máscaras contra o coronavírus - Manjunath Kiran/AFP
4.fev.2020 - Funcionários de hospital em Bangalore, na Índia, usam máscaras contra o coronavírus Imagem: Manjunath Kiran/AFP

Da EFe, em Bhopal, na Índia

22/04/2020 14h53

A Índia, considerada a "farmácia mundial", por ser o maior exportador do mundo de medicamentos, retomou a comercialização em meio a pandemia da covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus, o que pode ajudar a suprir as necessidades de pacientes em diversos países.

O governo local havia proibido as vendas ao exterior de 14 ingredientes ativos e suas formulações derivadas, incluindo o aciclovir, um medicamento antiviral, e vários antibióticos. A proibição foi suspensa em 7 de abril, com algumas restrições ao paracetamol e à hidroxicloroquina, que exigem autorização expressa.

Para diversos países, inclusive o Brasil, a hidroxicloroquina, se tornou uma verdadeira esperança. O medicamento, que é utilizado para combater a malária e doenças autoimunes, tem sido usado em vários estudos clínicos contra a covid-19.

"Temos reservas suficientes. Não há problema porque nossa produção é muito superior à nossa demanda interna", disse Ashok Kumar, diretor da Associação Indiana de Fabricantes de Medicamentos (IDMA), ao negar que haverá desabastecimento no país.

"Até agora, nossa demanda mensal era de apenas 20 milhões de caixas (de hidroxicloroquina), enquanto temos capacidade para produzir 200 milhões de caixas, por isso temos uma grande margem para atender nossa demanda interna pela covid-19 e também exportar", completou.

Algumas empresas fabricam o medicamento "sem dependência" de matérias-primas externas, embora Kmar tenha explicado que outras empresas precisam importá-los, principalmente da China, o que pode representar problemas, como o "aumento de preço".

De acordo com as informações oficiais, a Índia está fornecendo hidroxicloroquina, entre outros, para Brasil, Afeganistão, Sri Lanka e Estados Unidos.

"Os EUA estão comprando outros medicamentos de nós, mais de 20% de nossas exportações vão para o país", disse o diretor da IDMA, que elogiou o fim da proibição decretada pela Índia.

Exportação solidária

O governo indiano retirou algumas das restrições impostas aos medicamentos em 7 de abril, alegando "solidariedade" ao resto do mundo e não devido à pressão de qualquer país, disse uma fonte do Ministério da Saúde, que pediu anonimato, à Agência Efe.

Já o ex-diretor do Conselho Indiano de Pesquisa Médica e especialista em doenças infecciosas Jacob John Tekkekara afirmou que foi uma decisão sólida, embora tenha notado ter sido tomada um dia após o presidente dos EUA, Donald Trump ameaçar o país com retaliações se não permitisse as exportações.

"Trump é temperamental. Ele fez uma ameaça e, se não levássemos a sério, ele poderia ter feito o que disse que faria, como fez com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Ele é imprevisível, e é por isso que (o primeiro-ministro indiano Narendra) Modi fez a coisa certa ", avaliou Tekkekara.

O especialista se referiu ao congelamento dos fundos americanos para a OMS na semana passada pelo que creditou a um "manuseio incorreto" da crise da covid-19.

Países pobres

Em relação à hidroxicloroquina, até o momento 13 países obtiveram permissão do governo para comprá-la na Índia e já receberam cerca de 14 milhões de caixas, confirmou a porta-voz da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Índia, Leena Menghaney, que pediu às autoridades que também permitissem compras por parte de organizações independentes.

"Embora a MSF entenda a necessidade (indiana) de garantir o fornecimento para a resposta nacional à covid-19, e comemorar a decisão de permitir a exportação por razões humanitárias, solicita que o país também considere pedidos de aquisição feitos por agências da ONU e ONGs médicas como a MSF", destacou Menghaney.

Futuras pandemias

Apesar da garantia de que a Índia será capaz de atender a demanda global de medicamentos, a OMS recomenda que, na medida das próprias possibilidades, cada país tenha como fabricar, pelo menos produtos médicos básicos.

"Uma das lições importantes do atual surto de covid-19 é que os países que podem e devem investir tanto na fabricação quanto na construção das capacidades necessárias para aumentar sua produção.