Crise abre "oportunidade de crescimento" a seguradoras, diz diretor da Mapfre
Em entrevista à Agência Efe em colaboração com a Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, Perez-Serrabona disse que a subsidiária brasileira da Mapfre - a maior da multinacional fora da Espanha - tem solvência e diversificação de produtos suficientes para lidar com o impacto econômico da recessão.
O executivo também previu uma recuperação "rápida" no Brasil, alegando que o país não depende tanto de indústrias de massa como a do turismo, como acontece na Espanha.
A Mapfre conta com mais de 5 mil funcionários no Brasil, onde atua nos segmentos de seguros, investimentos, consórcios, capitalização e assistência e lidera nos segmentos rural e de grandes riscos.
Em 2019, a subsidiária brasileira lucrou R$ 427 milhões em 2019 (cerca de 15% do total obtido pela multinacional em todo o mundo pelo câmbio da época), um crescimento de 80% em relação a 2018.
A companhia possui também participação na BrasilSeg (empresa do Banco do Brasil), que atua nos ramos de seguros de Vida, Habitacional, Rural e Massificados (Residencial, Empresarial e Condomínio).
Confira a entrevista:.
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Agência Efe: Como o senhor se prepara para enfrentar esta situação da pandemia dos pontos de vista econômico e humano?
Fernando Pérez-Serrabona: Sou um otimista. Esta é uma crise atípica, com a economia estagnada por tanto tempo. Em uma crise como a de 2008 na Espanha, porque tudo era super indefinido, pensávamos que era o fim da economia como a conhecíamos. E logo se mostrou que também não era assim. Acredito que por trás de cada crise há sempre uma necessidade de sobrevivência e de superação nas pessoas (...) Esta é diferente, acredito que há uma grande possibilidade de recuperação (...) Isso vai afetar os setores de uma maneira diferente. Um país como o Brasil, que é um continente, com barreiras às importações e outras fontes de receita, vai superar a crise de uma maneira melhor do que países muito mais dependentes de indústrias de massa, como é a do turismo na Espanha.
Efe: Há algum dado sobre atrasos nos pagamentos?
Pérez-Serrabona: Não há absolutamente nada. Por enquanto não temos nenhum impacto negativo no pagamento de prêmios ou nada mais.
Efe: Foi preciso fazer provisões?
Pérez-Serrabona: Não. Estamos analisando em nível global, porque achamos que isso poderia ter algum efeito e que deveríamos ser extremamente prudentes, mas os níveis de solvência de empresas como a Mapfre são realmente mais que o dobro do exigido pelas autoridades locais, então temos capital suficiente (...) Estamos muito preocupados com as pessoas, porque, como se sabe, somos um setor de trabalho intensivo, temos mais de 5 mil funcionários no Brasil, e isso é o que realmente nos preocupa desde o início da pandemia. Neste sentido, a realidade espanhola ajudou muito, embora seja difícil. No dia 15 de março decidimos adotar (no Brasil) o 'home office'.
Efe: Como estão os resultados trimestrais no Brasil?
Pérez-Serrabona: Muito positivos. Ela (pandemia) começou em meados de março e teve um pequeno impacto durante o primeiro trimestre, mas os dados que temos em abril também são (bons). O setor de grandes empresas, o setor de agronegócios, o setor de vida vinculado a empréstimos, eles estão se mantendo bem. Somente no setor de veículos (não foram positivos), as novas contratações caíram, os números foram de 76% menos vendas de automóveis, e isso vai ter impacto no futuro. Creio que essa crise, para os seguros, é uma grande oportunidade, porque se tornaram aparentes as fragilidades dos sistemas. Creio que tem havido medo do que poderia acontecer, e creio que as pessoas, depois disso, farão um profundo reflexo da necessidade de ter cobertura. Há mais riscos no mundo? Sim, e nós estamos garantindo o risco. Então, creio que a médio prazo isso é algo que vai permitir que o mercado de seguros cresça.
Efe: Qual é o papel da empresa neste momento? Faz parte da solução para a pandemia? Foi preciso reduzir jornadas de trabalho, renegociar contratos de trabalho provisoriamente?
Pérez-Serrabona: Logo no início da crise, a primeira declaração do presidente da Mapfre foi que não iríamos mexer nos empregos. Em nenhum país aproveitamos as regulamentações locais, o que nos teria permitido abrir mão, ainda que temporariamente, de alguns funcionários.
Efe: Como o senhor disse, as crises também abrem oportunidades de negócio. A Mapfre tem em vista alguma aquisição dentro do mercado brasileiro?
Pérez-Serrabona: Não estamos planejando nenhuma aquisição, porque temos capacidade interna suficiente para desenvolver os negócios. É claro que estamos abertos a qualquer tipo de estudo, mas apenas com o desenvolvimento dos acordos que temos com o Banco do Brasil, com outros bancos e com o desenvolvimento da própria Mapfre. Entre os mercados potenciais de seguros, o Brasil está entre os 10 melhores do mundo em termos de potencial e desenvolvimento. Temos total confiança no Brasil. Sabemos que tem muitos problemas, como todos os países do mundo, mas estamos convictos de que o Brasil é o grande país do futuro.
Efe: Entre os problemas que o Brasil pode ter, como desigualdade social e insegurança, o senhor tem medo de que a crise crie um coquetel de violência e desordem?
Pérez-Serrabona: Não está nas nossas expectativas, nem nunca esteve. Creio que temos que reconhecer que o governo (brasileiro) está fazendo um grande esforço com os pacotes de ajuda para manter a situação calma. O que nós como empresa temos feito tem sido um esforço muito importante através da Fundação Mapfre, com muitos projetos sociais no Brasil. Estamos muito preocupados com as questões sociais, pois as desigualdades no país são enormes.
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