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Brasil vai assumir Mercosul em busca de acordo com europeus

Lu Aiko Otta

São Paulo

11/06/2017 10h29

Sacudido pela instabilidade política, o Brasil assumirá a presidência do Mercosul no fim de julho, para um semestre que promete ser o mais importante em muitos anos, do ponto de vista econômico. No período ocorrerão as negociações mais difíceis do acordo com a União Europeia, cuja conclusão os dois lados gostariam de anunciar no fim do ano. Outro ponto alto da coordenação brasileira deverá ser a assinatura de um acordo de compras governamentais entre os sócios do bloco.

No entanto, a crise brasileira ameaça tirar foco e velocidade dos trabalhos. "Se eu dissesse que não atrapalha, estaria mentindo", diz o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi. "Toda negociação precisa de um ambiente de confiança". No próprio governo, admite-se que a instabilidade "deixa tudo mais ou menos."

O rumo, porém, será mantido independentemente dos desdobramentos que a crise política possa ter. "Essa agenda econômica é imposição da sociedade brasileira e da realidade do mundo", diz um integrante do governo. "Não dá para imaginar que a economia brasileira vá se fechar mais".

Para o professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Oliver Stuenkel, o governo continua ativo em suas propostas para a economia, apesar das turbulências. "Os técnicos continuam trabalhando, mas sem um apoio político isso fica limitado". Hoje, observou, não é possível afirmar se o chanceler será o mesmo na semana que vem. Para ele, a capacidade de o presidente Michel Temer liderar o processo depende da percepção dos parceiros sobre sua permanência ou não no cargo. Por outro lado, ele acredita que a meta de fechar o acordo com os europeus no fim do ano continua presente.

O período de presidência brasileira à frente do Mercosul deve ser uma continuidade do trabalho iniciado em 2017 pela Argentina: o revigoramento do lado econômico e comercial do Mercosul, abandonado principalmente no período em que o Brasil foi presidido por Dilma Rousseff e a Argentina por Cristina Kirchner.

O trabalho envolve duas frentes: a melhora no comércio no bloco e os novos acordos comerciais. Além da União Europeia, há conversas com o Canadá, o Efta (Suíça, Liechtenstein, Noruega, Islândia) e o Japão, entre outros.

Pelo calendário acertado com os europeus, é no fim do ano que ocorrerão as negociações sobre exportações de produtos agrícolas e industriais. Nesse ponto as tentativas anteriores emperraram ao longo das duas últimas décadas: europeus tentando proteger seus produtores rurais e sul-americanos tentando proteger sua indústria.

A atual rodada tampouco começou bem. Os europeus ofereceram uma abertura menor do que a brasileira, excluindo produtos agrícolas nos quais o País é competitivo, como etanol e carne bovina. "Serão barganhas difíceis", antecipa um técnico. Para ele, a meta de fechar o acordo até o início de 2018 só será factível se a vontade política realmente pautar as negociações.

Avanço

Mercosul e União Europeia já conseguiram fechar pelo menos um capítulo do acordo: o que trata de defesa da concorrência. Por ele, os órgãos antitruste dos países poderão colaborar entre si. Já há textos para negociação em todos os demais temas, o que é considerado um quadro promissor.

A mais recente rodada de entendimentos, ocorrida em Buenos Aires no fim de maio, terminou com avanços em capítulos sobre serviços, compras governamentais, barreiras técnicas, propriedade intelectual e medidas sanitárias e fitossanitárias.

"O avanço significativo nessa rodada demonstra de forma cristalina o interesse tanto do Mercosul quanto da União Europeia em concretizar o acordo de livre comércio o mais breve possível", diz o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira. "Esse é um desejo do setor produtivo brasileiro manifestado em especial através da CNI e das entidades associativas, de modo que depois de 20 anos entre negociações e interrupções temos no horizonte novas possibilidades e novas oportunidades." A reunião está marcada para a primeira semana de julho, em Bruxelas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.