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Mercedes-Benz decide ir à Justiça contra greve que já dura uma semana

André Ítalo Rocha

São Paulo

22/05/2018 17h48

A Mercedes-Benz, que há uma semana tem passado por uma greve dos seus trabalhadores na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, decidiu levar o impasse à Justiça.

A disputa envolve reivindicações salariais, participação em lucros e resultados e alguns benefícios que foram acertados em acordo anterior e agora estão em risco.

Para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que representa os funcionários da fábrica, a decisão da empresa de ir à Justiça significa um "retrocesso" no histórico de negociações entre as duas partes.

"Foi precipitado. Na história dos trabalhadores na Mercedes, os impasses sempre foram resolvidos numa mesa de negociações", disse o diretor-executivo do sindicato, Moisés Selerges. "Vamos continuar tentando restabelecer um diálogo com a direção. Dialogar é sempre a saída mais inteligente", reforçou.

Braços cruzados a uma semana

Em campanha salarial, com data-base em maio, os 8.000 trabalhadores da fábrica cruzaram os braços na segunda-feira da semana passada (14).

No início, eles exigiam que a montadora, além de dar aumento real de salários, desistisse de demitir 340 funcionários da área administrativa, mudasse o cálculo da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e mantivesse algumas cláusulas acertadas em um acordo anterior.

Algumas das cláusulas em discussão são o tempo de estabilidade para trabalhadores que sofreram algum acidente e o complemento que eles recebem da empresa por quatro meses para que o auxílio-doença recebido pelo INSS chegue ao mesmo valor do salário.

Segundo o sindicato, a questão das demissões foi superada, pelo menos por enquanto, com a empresa desistindo do corte de vagas. O impasse, no entanto, ainda continua com o reajuste salarial, a PLR, os benefícios.

Trabalhadores recusaram proposta da empresa

A empresa chegou a oferecer reposição do salários pela inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), além de um abono não vinculados aos vencimentos, mas os trabalhadores rejeitaram a proposta em assembleia.

"Considerando a continuidade da paralisação e a impossibilidade de uma solução negociada, a Mercedes-Benz do Brasil decidiu submeter a discussão à Justiça do Trabalho", escreveu a empresa em nota enviada à imprensa.

Greve prejudica retomada do setor

A greve ocorre em um momento em que o setor volta a crescer. A fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo é destinada à produção de caminhões e ônibus.

Tais segmentos, respectivamente, apresentam crescimento de 54,9% e 81,7% no acumulado de janeiro a abril ante igual intervalo do ano passado, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

A fábrica da Mercedes, que com a crise passou a produzir em somente um turno, deve voltar aos dois turnos no segundo semestre deste ano, conforme tem dito em entrevistas o presidente da empresa no Brasil, Philipp Schiemer. A unidade, que tem capacidade de produzir 80 mil veículos por ano, tem operado no limite de apenas um turno.